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Foto do escritorIsabela Félix

A inteligência dos cetáceos: Comunicação e relação social frente às ameaças crescentes

Os cetáceos são animais pertencentes à infraordem cetacea que consiste em aproximadamente 106 espécies, divididas em duas subordens: Mysticeti, que engloba o subgrupo das baleias, sendo elas de quatro famílias e seis gêneros de 14 espécies, e também a subordem Odontoceti, que engloba botos, golfinhos e cachalotes, compreendidas em 34 gêneros e 92 espécies. Esses animais são mamíferos adaptados ao ambiente aquático, amamentam seus filhotes e respiram por meio de pulmões, havendo a necessidade de subirem à superfície em intervalos de segundos a minutos de acordo com cada espécie.

O cérebro dos cetáceos é, proporcionalmente à massa corpórea, um dos maiores entre os mamíferos, possuindo também alta complexidade cortical. Dessa forma, esses animais apresentam sofisticada ecolocalização que permite a identificação de predadores, comunicação entre os indivíduos e captação de informações sobre o ambiente, formação de sociedades complexas, relações sociais e maternas muito bem estabelecidas, além de boa memória espacial e desenvolvimento de estratégias de proteção de seu filhote, que é gerado durante um longo período gestacional e se mantém junto à mãe durante seis a dez meses.

A noção de diferenciação de si próprio já é demonstrada em estudos comportamentais por meio da percepção de como as coisas funcionam e da tomada de estratégias para manipulá-las. As baleias jubarte percebem situações de risco para seus filhotes e, surpreendentemente, também se atentam a apuros enfrentados por outros animais, tomando iniciativa para evitar seu sofrimento. São observados comportamentos agressivos para defender outros indivíduos contra ataques de orcas (Orcinus orca), por exemplo, mesmo sem benefícios diretos para sua autopreservação. Há também a adaptação de sua vocalização para reduzir a atenção de predadores enquanto seus bebês ainda estão vulneráveis, o que indica o entendimento apurado sobre como lidar em situações de risco, além de cooperação com outros.

Sob essa perspectiva, os animais pertencentes a essa infraordem são muito conhecidos por sua imponência e beleza, assim como pelo tamanho e protagonismo de muitas de suas representantes, como por exemplo a baleia azul, que é o maior animal existente, atingindo até 30 metros de comprimento e 170 toneladas de massa. Além disso, podemos incluir nessa lista os encantadores padrões fixos do canto das baleias jubarte e a inteligência dos golfinhos - comumente comparada com a inteligência dos primatas. Associado ao encantamento causado por esses animais, há também os históricos desafios enfrentados pelos mesmos, decorrentes de históricas caças e ameaças por ações antrópicas ao longo de séculos - seja pela carne, gordura ou outros subprodutos culturalmente valorizados, além dos impactos da pesca, acidentes com embarcações e outras atividades humanas.

Segundo a Portaria MMA n° 148 publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, atualmente quatro espécies de baleias-verdadeiras estão incluídas na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais das espécies ameaçadas (IUCN), sendo elas: a baleia-franca, a baleia-sei (Balaenoptera borealis) e a baleia-fin (Balaenoptera physalus) na categoria “Em Perigo de extinção”, e a baleia-azul (Balaenoptera musculus) como “Criticamente em Perigo”. Os odontocetos também sofrem com essa triste realidade, sendo o boto-cinza (Sotalia guianensis) e o cachalote (Physeter macrocephalus) categorizados como “Vulneráveis à ameaça de extinção”, o boto-da-Amazônia (Inia geoffrensis) como “Em Perigo” e a toninha (Pontoporia blainvillei) como “Criticamente em Perigo”.

O Plano de Ação Nacional para Conservação de Cetáceos Marinhos Ameaçados de Extinção - PAN, assim como os projetos Baleia Jubarte, Projeto Toninhas, entre outros intuitos de conservação, buscam amenizar essa realidade, mas é perceptível a urgência para a minimização desses impactos que colecionam dia após dia mais mamíferos aquáticos para a lista de animais em risco de extinção, assim como estratégias para a recuperação de seu ecossistema e conservação desses e outros animais que vivem em condições de vulnerabilidade.



REFERÊNCIAS

Benoit-Bird, K. J., Dahood, A. D., & Würsig, B. (2009). Using active acoustics to compare lunar effects on predator–prey behavior in two marine mammal species. Marine Ecology Progress Series, 395, 119-135.


de Vasconcellos, D. G. V. S. (2018). A perspectiva sub-aquática na pesquisa com cetáceos e a interação entre baleias-jubarte, peixes associados e golfinhos-de-dentes-rugosos.


Guia de Ilustrado de Identificação de. Cetáceos e Sirênios do Brasil – ICMBio/CMA 2ª Edição-- Brasília, DF: ICMBio/CMA, 2020. 72 p. : il., color.


Nigro, J., Balda, A., & Saenz, C. (2020). COMUNICAÇÃO EMOCIONAL ENTRE O HOMEM E O ANIMAL NÃO - HUMANO. ENCICLOPEDIA BIOSFERA, 17(34).


Pérez‐Manrique, A., & Gomila, A. (2018). The comparative study of empathy: sympathetic concern and empathic perspective‐taking in non‐human animals. Biological Reviews, 93(1), 248-269.

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