
De acordo com a Agência Nacional de Água - ANA (2015), a bacia amazônica abrange uma área de, aproximadamente, 6 (seis) milhões de km² e se estende por 6 (seis) países, além do Brasil. No entanto, apesar da sua força e magnificência, esta bacia fluvial encontra-se com pontos críticos de seca dos rios e braços d 'água, desencadeados pelas alterações climáticas.
É importante ressaltar que essa estiagem recorrente dos últimos anos na Amazônia é o fruto da união de fatores complexos de natureza antrópica e ambiental. Assim, eventos climáticos como El Niño, La Niña, o aquecimento global e o desmatamento desenfreado, alteram o ciclo hidrológico da região, levando à diminuição das chuvas e aumento das temperaturas (Zogahib et al., 2024). Nas últimas décadas a Amazônia registrou diversos episódios de estiagem prolongada, a primeira em 2005, a segunda em 2010, a terceira entre 2015 e 2016 e a mais recente entre 2022 e 2023. Estes eventos afetam o bioma sob diversos aspectos, principalmente no que se refere aos animais aquáticos que dependem das águas para sua sobrevivência (Andrade, 2024).

Legenda. Igarapé dos Reis em Iranduba, Amazonas com dezenas de peixes mortos ao redor de algumas madeiras e rabetas no ano de 2023. Fonte: Alberto César Araújo/Amazônia Real.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA (2024), a seca recorde na bacia amazônica em 2023-2024 afetou drasticamente a população de peixes e mamíferos aquáticos da região. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2023, instaurou a “Operação Emergência Botos Tefé”, para sanar a crise ambiental e sanitária que atingiu o Lago Tefé, no médio Rio Solimões no interior do Amazonas, ponto crítico de mortalidade de botos-vermelhos (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis) devido à elevada temperatura da água. Aproximadamente 153 (cento e cinquenta e três) botos foram mortos, sendo 130 (cento e trinta) Botos-vermelhos e 23 (vinte e três) Tucuxis. Observa-se que os Botos-vermelhos são considerados em Perigo de Extinção (EN) (ICMBio, 2022), e os Tucuxis em estado de Quase Ameaçado (NT) (ICMBio, 2018).

Além disso, instituições como o INPA alertam que, em períodos de intensa seca dos rios e braços d'água, espécimes de peixe-boi-amazônico (Trichechus inunguis) sofrem com o encalhe, e com a exposição acabam por serem vítimas da caça ilegal. Vale ressaltar que, o peixe-boi-da-Amazônia é endêmico da região e considerado Vulnerável (VU) na escala de risco de extinção (ICMBio, 2022).

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM (2024) afirma que os eventos hidrológicos afetam toda a vida aquática. Assim, levando em consideração que o nível da água interfere nas migrações de rios, no acesso a alimentos e na indicação de quando se reproduzir. Logo, animais expostos a esta realidade possuem maiores fatores estressantes, que limitam seu processo de reprodução e, como consequência, afetam a biodiversidade local como um todo.
Diante do exposto, fica evidente as drásticas mudanças climáticas e seus impactos na bacia amazônica que comprometem seriamente o equilíbrio ambiental e a sobrevivência das espécies aquáticas do bioma. A crescente mortandade de peixes e mamíferos fluviais é um alerta para a sociedade sobre os impactos devastadores das alterações no ciclo hidrológico e na temperatura da água. Impactos estes, que se tornam cada vez mais próximos de patamares irreversíveis de degradação.
Neste sentido, é essencial fortalecer e incentivar iniciativas de conservação como as promovidas pelo ICMBio e outras instituições. Por fim, torna-se imprescindível reiterar que proteger a Amazônia é garantir a biodiversidade para o planeta.
Autor/a: Bárbara Macedo Lopes - Diretora de criação do GEAS Brasil
Revisão: Iago Junqueira - Parceiro do GEAS BRASIL pela The Wild Place
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Agência Nacional de Águas (Brasil). Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: regiões hidrográficas brasileiras – Edição Especial. Brasília: ANA, 2015.
Amazônia. [S.l]: Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, 28 dez. 2021. Atualizado em 28 dez. 2024.
Andrade, R.O. A seca que afetou a Amazônia em 2023 causou a maior queda nos níveis dos rios já registrada, e está relacionada a mudanças climáticas, mostra estudo. Jornal da UNESP, 24 abr. 2024.
Brasil. Portaria MMA Nº 148, DE 7 de junho de 2022. Diário Oficial da União, 08 jun. 2022.
Brown, S. Enquanto os rios secam, peixes-bois ficam expostos à caça na Amazônia: O baixo nível da água dos rios da Amazônia facilita a ação de caçadores, que buscam a carne do animal. Fauna News, 11 out. 2024.
Costa, F, Marengo, J. Declaração sobre a seca amazônica de 2023 e suas consequências imprevistas. Caderno de estudo: bioma Amazônia e o desmatamento. IBAM - Rio de Janeiro, 2015.
Domit, C et al. Sotalia fluviatilis: Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade.
ICMBio. Mais de 150 botos morrem no interior do Amazonas devido à seca extrema: No Lago Tefé, com calor e seca extrema, a temperatura da água chegou a mais de 39°C. [S.l]: Agência GOV, 16 out. 2023.
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA. Secas e cheias devem tornar-se mais intensas e frequentes na Amazônia nas próximas décadas. 04 set.2024.
Região Hidrográfica Amazônica. Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA),
Zogahib, A.L.N et al. Mudanças climáticas e seus impactos nas cidades: estudo de caso do fenômeno da seca no Estado do Amazonas, Brasil. Research, Society and Development, 26 set. 2024.
Rodrigues, D. Pesquisa constata que eventos hidrológicos afetam a rotina de vida dos peixes amazônicos. Decon/Fapeam, 16 jan. 2024.
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