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Afinal, do que o Lobo-Guará se alimenta e por que isso importa? 

O Lobo-Guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815), é um mamífero endêmico da América do Sul. Ele é um canídeo do gênero Chrysocyon, que no Brasil se encontra principalmente no Cerrado, sendo uma espécie muito conhecida desse bioma devido sua aparência singular. Reconhecido por suas pernas finas e longas, uma chamativa pelagem avermelhada, medir cerca de um metro de altura e ter peso de até 30 kg. Apesar de ser reconhecida pela população como um símbolo da fauna brasileira e principalmente do cerrado, a espécie não é reconhecida da mesma maneira em toda a sua importância ecológica. De modo que, um dos objetivos da escolha da espécie para representar a nota de R$200, lançada em 2020, foi também para chamar a atenção da população sobre a importância dessa espécie além de sua aparência.

 

A alimentação do Lobo-Guará é um exemplo disso, no qual muitos a caracterizam como estritamente carnívora, assim como ocorre em outras espécies de canídeos selvagens, sem realmente saber do que esse animal se alimenta, de fato. Entretanto, hoje já existem muitos estudos focados na dieta da espécie que comprovam que a alimentação do lobo guará é, na realidade, totalmente onívora.

 

Um estudo realizado em 2003 no sudeste do estado de Minas Gerais, analisou cerca de 150 amostras de fezes de lobo guará e conseguiu descobrir que eles apresentavam uma dieta com a presença de pelo menos 18 espécies de origem animal e 11 de origem vegetal. De modo geral, a dieta de lobo guará contemplaria pequenos mamíferos, artrópodes, aves, répteis e frutas, tendo uma prevalência de artrópodes e frutas na estação chuvosa e mamíferos na estação seca. Outros estudos feitos em 2007 e 2015  realizados em  regiões diferentes encontraram resultados semelhantes, mostrando principalmente a prevalência de artrópodes e frutas na estação chuvosa. Mas, em um estudo de 2001 focado na determinação da dieta do Lobo-Guará, foi destacado ainda que na parte vegetal há uma grande presença de sementes de Solanum lycocarpum na estação seca. Essa  Solanum lycocarpum, é uma planta da mesma família do tomate e jiló muito presente no Cerrado onde é conhecida popularmente como lobeira, ou fruta-do-lobo, devido justamente ao frequente consumo desse fruto pelo lobo guará.

 

Mas por que saber da existência dessa dieta onívora é importante?

Porque o consumo constante de material vegetal por meio de frutos, no caso do sistema digestório desse animal, leva à presença de sementes intactas nas fezes, configurando assim o lobo guará como um importante agente dispersor de sementes. Sua importância aumenta, devido à sua característica de ter uma área de vida bem ampla, de até 120 km², espalhando as sementes de frutos importantes pelo cerrado.

 

Atualmente, é uma espécie que se encontra na categoria quase ameaçada pela IUCN. Mas, acredita-se que devido à expansão do agronegócio, aos conflitos com produtores rurais e aos frequentes acidentes em rodovias, consequentemente tornando-se mais vulnerável. Uma vez que com a diminuição da população de lobos, tem-se ao mesmo tempo uma diminuição na dispersão de sementes no cerrado que depende diretamente da ação do lobo, como a lobeira. Portanto, saber a dieta deste animal não é só importante para aumentar nossa compreensão sobre a espécie, mas também como reconhecer o impacto ecológico dela no ambiente em que ela se insere.

 

Quer saber mais sobre o Lobo-Guará e como contribuir com sua conservação?

Conheça o projeto de educomunicação “Sou amigo do Lobo” do Instituto Pró-Carnívoros, criado em 2013 com o objetivo de transmitir informações sobre esse animal à sociedade e sensibilizá-la quanto aos problemas que a espécie está sujeita em um mundo de mudanças.

www.amigodolobo.org

https://pt-br.facebook.com/amigodolobo/

https://www.instagram.com/amigodolobo/

 

 

Referências:

 

SANTOS, Eliana F.; SETZ, Eleonore ZF; GOBBI, Nivar. Diet of the maned wolf (Chrysocyon brachyurus) and its role in seed dispersal on a cattle ranch in Brazil. Journal of Zoology, v. 260, n. 2, p. 203-208, 2003.

QUEIROLO, Diego; MOTTA-JUNIOR, José C. Disponibilidade de presas e dieta do lobo-guará no Parque Nacional da Serra da Canastra, sudeste do Brasil. Acta Theriologica , v. 52, n. 4, pág. 391-402, 2007.

ROSA, CA et al. Comportamento alimentar do lobo-guará Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) e o registro da predação de tinamou marrom Crypturellus obsoletus (Temminck, 1815) (Tinamiformes, Tinamidae) na Serra da Mantiqueira, sudeste do Brasil. Bol Soc Bras Mastozool , v. 72, p. 7 a 10 de 2015.

ARAGONA, M.; SETZ, E. Z. F. Diet of the maned wolf, Chrysocyon brachyurus (Mammalia: Canidae), during wet and dry seasons at Ibitipoca State Park, Brazil. Journal of Zoology, v. 254, n. 1, p. 131-136, 2001.

MOTTA-JUNIOR, José Carlos et al. A dieta frugívora do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus no Brasil: ecologia e conservação. Dispersão de sementes e frugivoria: ecologia, evolução e conservação , p. 291-303, 2002.

EMMONS, Louise H. The maned wolves of Noel Kempff Mercado National Park. Smithsonian Contributions to Zoology, 2012.

Paula, R.C. & DeMatteo, K. 2015. Chrysocyon brachyurus (errata version published in 2016). The IUCN Red List of Threatened Species 2015: e.T4819A88135664. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2015-4.RLTS.T4819A82316878.en

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