No último mês de setembro, em meio às diversas queimadas registradas pelo país, pudemos acompanhar a triste notícia do resgate de uma anta em Andradina, interior de São Paulo. Segundo matéria publicada no site de notícias G1, o animal não conseguiu fugir do fogo e foi encontrado desorientado e com ferimentos que atingiram 100% do seu corpo. Esse indivíduo foi encaminhado para a equipe da ONG Mata Ciliar, localizada em Jundiaí (SP), infelizmente o animal não resistiu. Além desse caso, ainda na ONG Mata Ciliar, apenas 5 meses antes em Piacatu (interior de São Paulo), foi registrado o atropelamento de um casal de antas e um filhote recém nascido, infelizmente o macho e o filhote também não resistiram aos ferimentos. Ambas notícias são exemplos recorrentes da pressão sofrida atualmente por esses animais, mas afinal, quem são eles? Considerado o maior mamífero terrestre da América do Sul, chegando a até dois metros de comprimento e pesando até 300 quilos, as antas são ungulados da ordem Perissodactyla, que também inclui equinos e rinocerontes. A família, Tapiridae, compreende quatro espécies, sendo elas: anta-sul-americana (T. terrestris), anta-centro-americana (T. bairdii), anta-da-montanha (T. pinchaque) e anta asiática (T. indicus) distribuídas pelo mundo, na região da América Central, América do Sul e Sudeste Asiático (Mangini, 2014).
Figura 1: Distribuição mundial das antas
Uma das características mais marcantes das antas é a pequena tromba (probócide) que apresenta grande mobilidade e capacidade tátil, funcionando como um membro auxiliar para apanhar alimentos (Mangini, 2014), entre eles folhas, brotos, flores e sementes de diversas espécies vegetais (Tobler et al. 2010). O status de conservação no Brasil depende da localização em questão. Um estudo publicado em 2012 pelo ICMbio e baseado nos dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) de 2010, revelou o status de conservação das antas no Brasil a depender do bioma, revelando que apenas na Amazônia a espécie foi considerada como menos preocupante (‘Least concern’ – LC), no Pantanal o status dado foi Quase Ameaçada (‘Near threatened’ - NT), na Caatinga ela foi considerada Regionalmente extinta (RE), e na Mata Atlântica e no Cerrado está Em perigo (EN) (Medici, 2010).
Consideradas jardineiras das florestas, as antas têm um importante papel ecológico, atuando na dispersão de sementes de diferentes espécies vegetais pela mata e participando assim da manutenção das florestas que utilizam como habitat. Além disso, sendo uma das principais presas das onças pardas (Puma concolor) e pintadas (Panthera onca), esse animal têm papel fundamental no equilíbrio da cadeia trófica em que se faz presente.
Apesar desta importância ecológica, essas espécies sofrem diversas pressões externas que contribuem para a diminuição da sua população, o que causa um impacto direto no equilíbrio ecológico. Dentre as principais ameaças, segundo a IUCN, podemos citar: caça, desmatamento e/ou alteração do habitat, extração de recursos, pecuária, queimadas, monocultura, atropelamento, falta de patrulhamento em áreas protegidas, turismo, mudanças climáticas, usinas hidrelétricas e mineração. Deste modo, possíveis ações mitigadoras podem ser tomadas para contribuir com a conservação da espécie como:
Criação de novas unidades de conservação;
Campanhas de conscientização no trânsito;
Maior monitoramento de áreas suscetíveis a queimadas;
Incentivos governamentais para práticas agrícolas sustentáveis;
Maior apoio a projetos e programas de pesquisa.
Um exemplo de projeto com esse foco é a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e liderado pela ambientalista brasileira Dra. Patrícia Medici. Essa iniciativa envolve ações de pesquisa, monitoramento e conservação, além de sensibilização e educação ambiental. Atuando desde 1996, o programa foi se expandindo e hoje conta com o maior banco de dados sobre a espécie no mundo, os quais são disponibilizados para ajudar na implementação de medidas que possam apoiar a proteção da espécie em todos os biomas brasileiros onde ela ocorre.
Autora: Luiza Torquato - Representante Regional
REFERÊNCIAS
G1. Anta fica gravemente ferida após ser queimada em incêndio no interior de SP; região noroeste registra diversos focos de queimadas. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2024/09/12/anta-fica-gravemente-ferida-apos-ser-queimada-em-incendio-no-interior-de-sp-regiao-noroeste-registra-diversos-focos-de-queimadas.ghtml. Acesso em: [2 out. 2024]
G1. Casal e filhote de antas são atropelados em Piacatu. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2024/04/10/casal-e-filhote-de-antas-sao-atropelados-em-piacatu.ghtml. Acesso em: [2 out. 202]
MANGINI, P. R. . Perissodactyla - Tapiridae (Antas). In: Zalimr S. Cubas; Jean Carlos ramos Silva; José Luiz Catão-Dias. (Org.). Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária. 2ed.São Paulo: Rocca, 2014, v. 1, p. 1006-1036.
ONCAFARI. Anta. Disponível em: https://oncafari.org/especie_fauna/anta/. Acesso em: [2 out. 2024]
MEDICI, E. P. Assessing the viability of lowland tapir population in a fragmented landscape. Canterbury, 2010, 276p. Thesis (PhD) – Durrell Institute of Conservation and Ecology, University of Kent.
MEDICI, Emília Patrícia et al. Avaliação do risco de extinção da anta brasileira Tapirus terrestris Linnaeus, 1758, no Brasil. Biobrasil, Brasilia, v. 2, n. 3, p. 103-116, 2012.
SILVA, R. C.. Frugivoria e dispersão de sementes por Tapirus terrestres (LINNAEUS, 1750). 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) - Faculdade Estácio do Amazonas.
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