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Cerrado em perigo: o desmatamento como ameaça à savana brasileira.


Segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado dia 28 de maio de 2024 pelo MapBiomas, uma rede colaborativa que realiza o mapeamento e monitoramento da cobertura e uso de terra do país, no ano de 2023 o Cerrado ultrapassou a Amazônia pela primeira vez e apresentou a maior área desmatada entre os biomas nacionais. Nesse contexto, mais da metade do total do desmatamento registrado no Brasil (60,7%) ocorreu na região cerratense, totalizando 1.110.326 hectares. Ainda, de acordo com o relatório, a maior parte da área devastada ocorreu na região popularmente conhecida como Matopiba que engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, áreas já conhecidas por conflitos de terra e violência no campo ligados ao avanço da fronteira agrícola para produção de monoculturas como a soja.

Imagem 1: Localização em cada um dos biomas dos maiores desmatamentos no Brasil em 2023. (Fonte: MapBiomas) 


Afinal, o que é o Cerrado? Cerrado é o nome dado a um bioma localizado, principalmente, no Planalto Central Brasileiro e considerado a segunda maior formação vegetal do país, com uma área de aproximadamente dois milhões de km2, correspondendo a 25% do território nacional. A região é uma das que apresenta a maior biodiversidade do mundo, mas que se encontra profundamente ameaçada sendo considerada um dos 25 hotspots globais, ou seja, uma área prioritária para a preservação da riqueza biológica (Barbosa & Viana, 2014) e que apresenta grande concentração de espécies endêmicas sob ameaça (Myers, 2000).

A vegetação mais característica do local é marcada por árvores baixas de troncos tortuosos, raízes profundas e diversas adaptações desenvolvidas frente à seca e queimadas que ocorrem, frequentemente, na área. Além disso, o solo poroso permite a penetração de água em períodos chuvosos e, devido às zonas de planalto, possui diversas nascentes de rios importantes para o abastecimento de bacias hidrográficas nacionais. Conhecida como caixa d’água do Brasil, a região compreende seis das oito grandes bacias hidrográficas brasileiras: a bacia Amazônica, do Tocantins, do Atlântico Norte/Nordeste, do São Francisco, do Atlântico Leste e dos Rios Paraná/Paraguai (Scariot; Sousa-Silva; Felfili, 2005). Segundo Fernanda Ribeiro, coordenadora do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), diante das altas taxas de desmatamento e perda da vegetação nativa, a região tem reduzido a sua capacidade de absorção e retenção de água, colocando em risco essa ampla distribuição hídrica.

Apesar de que a primeira vista pareça ser uma região pobre biologicamente, sendo frequentemente subestimada pelo senso comum, de acordo com o ICMBio, o Cerrado apresenta um número de espécies vegetais e animais semelhante ao encontrado em outras formações florestais. Segundo o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Sociedade População e Natureza, em relação à fauna local, ocorrem nesse bioma mais de 800 espécies de aves, sendo 29 delas endêmicas, além de quase 200 espécies de mamíferos, 180 de répteis e 210 de anfíbios. Dentre os animais presentes na região, podemos encontrar espécies como o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o tatu-canastra (Priodontes maximus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a ema (Rhea americana), a arara-canindé (Ara ararauna), a cascavel (Crotalus durissus), entre outros milhares de exemplares.

Mesmo com tamanha importância biológica e socioeconômica, o Cerrado, além do crescente problema de desmatamento, há outros inúmeros fatores identificados como ameaças para esse bioma, como, por exemplo, as queimadas criminosas, expansão agrícola e pecuária, contaminantes ambientais, como pesticidas e herbicidas, erosão e degradação do solo pelo manejo incorreto, uso predatório de espécies. Ademais, a ineficiência na aplicação da legislação ambiental e a deficiência na fiscalização contribuem para a intensa degradação ambiental até hoje.

 Deste modo, tendo em vista nosso papel na preservação, existem medidas simples que podem ser adotadas, como por exemplo o consumo consciente,  apoio à pequenos produtores ou àqueles que adotam técnicas agrícolas sustentáveis respeitando o equilíbrio ambiental, exigir dos órgãos políticos competentes o cumprimento e implementação de ações conservativas efetivas e principalmente apoiar campanhas ambientais promovendo a disseminação e conscientização do assunto ao restante da população. 

Autora: Luiza Torquato - Representante Regional

1ª Revisão: 21/06/2024

2ª Revisão (Parceiro Iago Junqueira – The Wild Place): 

Painel Selvagem de Junho/2024


REFERÊNCIAS  

RAD2023: Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2023 - São Paulo, Brasil - MapBiomas, 2024.

BARBOSA, Rildo P.; VIANA, Viviane J.; RANGEL, Morgana Batista A. Fauna e Flora Silvestres: Equilíbrio e Recuperação Ambiental. São Paulo: SRV Editora LTDA, 2014.

SCARIOT, Aldicir; SOUSA-SILVA, José Carlos; FELFILI, Jeanine M. (Orgs.). Cerrado: Ecologia, Biodiversidade e Conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005.

CNN BRASIL. Desmatamento no Brasil teve queda de 11,6% em 2023, aponta estudo. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/desmatamento-no-brasil-teve-queda-de-116-em-2023-aponta-estudo/. Acesso em: 02 jun 2024.

Instituto Chico Mendes De Conservação Da Biodiversidade (ICMBio). Biodiversidade do Cerrado. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cbc/conservacao-da-biodiversidade/biodiversidade.html. Acesso em: 02 jun 2024.



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