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Conhecer para conservar: Elasmobrânquios brasileiros e a necessidade de ações de conservação.

Atualizado: 14 de mar.



Apesar de carregarem um injusto peso de serem considerados os “grandes vilões dos mares”, os tubarões, juntamente com as raias e as quimeras, desempenham papéis vitais nos ecossistemas aquáticos por todo o planeta. Esses animais pertencem à Classe Chondrichthyes (peixes cartilaginosos) – subclasse Elasmobranchii (tubarões e raias) e Holocephali (quimeras) – e estão entre os vertebrados de maior sucesso evolutivo, com uma história de vida que se iniciou há cerca de 400 milhões de anos (MARANHO; BALDASSIN, 2014). Em todo o mundo, já foram descritas aproximadamente 1.200 espécies de elasmobrânquios (NELSON apud ICMBio, 2016), enquanto no Brasil são conhecidas cerca de 211, incluindo as de ocorrência marinha e de água doce (GADIG et al. in BRASIL, 2023).

Entre os tubarões e raias que habitam as águas marinhas brasileiras, algumas espécies se destacam pela sua importância ecológica e presença significativa em diferentes habitats. Tubarões como o tubarão-lixa (Ginglymostoma cirratum) (figura 1A) e o tubarão-mangona (Carcharias taurus) (figura 1B) são avistados na costa brasileira e não apresentam grande risco à vida humana, sendo raríssimos os registros de ataques. Indivíduos dessas espécies podem ser encontrados sob cuidados humanos em aquários brasileiros, juntamente com algumas espécies de raias com ocorrência, também, em vida livre, como a raia-ticonha (Rhinoptera bonasus) (figura 1C) e a raia-pintada (Aetobatus narinari). Vale-se destacar, conjuntamente, algumas espécies que habitam ou transitam em ambientes de água doce, como é o caso das raias da família Potamotrygonidae, que vivem exclusivamente nesses locais, ou do tubarão-cabeça-chata (Carcharhinus leucas), que é considerado uma espécie marinha que realiza incursões em água doce.    

A variedade de espécies desses fascinantes animais implica em indivíduos com suas próprias características e desafios de conservação. O norte do Brasil é considerado um hotspot global para elasmobrânquios (WOSNICK et al., 2019), ou seja, trata-se de um local com alta biodiversidade de animais dessa classe. Espécies como o tubarão-quati (Isogomphodon oxyrhynchus) (figura 1D), classificado como Criticamente em Perigo (CR) na Lista Vermelha da IUCN pela alta ocorrência de captura incidental na pesca artesanal, são endêmicos das águas costeiras ao norte da América do Sul (LESSA apud WOSNICK et al., 2019). Há poucas décadas, o consumo de carne de tubarões e raias se restringia a populações costeiras e ribeirinhas, porém, com a redução dos estoques pesqueiros, o consumo dessa carne passou a ser mais difundido e apreciado (MARANHO; BALDASSIN, 2014). Juntamente ao aumento da caça para venda de iguarias, como as nadadeiras de tubarão, outras ações antrópicas também ameaçam a integridade dos elasmobrânquios, como a degradação dos ambientes costeiros, a captura acidental (by-catch), o aumento do esforço de pesca e, ainda, pela própria estratégia de vida das espécies (CAMHI et al. apud LESSA et al., 1999).    

Diante desses desafios, é fundamental implementar ações de conservação eficazes para proteger as populações de elasmobrânquios no Brasil e no mundo. O Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Tubarões e Raias (PAN Tubarões) é uma iniciativa importante nesse sentido, visando promover a conservação e o manejo sustentável desses animais. O PAN Tubarões estabelece diretrizes e estratégias para proteger as espécies vulneráveis, reduzir as capturas acidentais e monitorar as populações de elasmobrânquios em todo o país. Além disso, outras medidas de conservação incluem a criação e expansão de áreas marinhas protegidas, a implementação de regulamentações mais rigorosas para a pesca comercial e a conscientização pública sobre a importância dos elasmobrânquios para os ecossistemas aquáticos (BRASIL, 2023), considerando que são animais que atuam no controle populacional das águas, regulando espécies invasoras e mantendo o equilíbrio nas cadeias alimentares, realizam ciclagem de nutrientes, auxiliam na manutenção da saúde dos recifes de coral e são excelentes bioindicadores de saúde desses ecossistemas. 

Com toda a importância ecológica que gira em torno da simples existência desses animais, sua presença nas águas é puramente bela. Em seus mais variados formatos, com uma hidrodinâmica única e comportamentos diversos, esses seres milenares são fascinantes a luz de quem se importa o suficiente para conhecê-los, cabendo a função educativa a todos os profissionais da área com a promessa de atuar em prol da conservação. Afinal, segundo o engenheiro florestal senegalês Baba Dioum (1968), nós vamos conservar apenas o que amamos, vamos amar apenas o que entendermos e entenderemos apenas o que nos ensinarem.  


Figura 1. A) Tubarão-lixa (Ginglymostoma cirratum) no Aquário Marinho do Rio de Janeiro; B) Tubarão-mangona (Carcharias taurus) no Aquário Marinho do Rio de Janeiro; C) Raia-ticonha (Rhinoptera bonasus) fotogradada no Océanopolis Brest (FRA); D) Tubarão-quati (Isogomphodon oxyrhynchus) coletado no Suriname pelo Naturalis Biodiversity Center.



Fontes: 1A. Acervo do Aquário Marinho do Rio de Janeiro; 1B. Acervo do Aquário Marinho do Rio de Janeiro; 1C. Site Wikipedia, 2012; 1D.Acervo do Naturalis Biodiversity Center.


Autora: Maria Eduarda Abrahão Penna Machado


Referências:

MARANHO, A.; BALDASSIN, P. Peixes Elasmobrânquios. In: ZALMIR SILVINO CUBAS; CARLOS, J.; JOSÉ LUIZ CATÂO-DIAS. Tratado de Animais Selvagens Medicina Veterinária. [s.l.] Sao Paulo (Brasil) Editora Roca, 2014. p. 118-131.

INSTITUTO CHICO MENDES. 2016. Avaliação do risco de extinção dos elasmobrânquios e quimeras no Brasil: 2010-2012. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/biblioteca/download/trabalhos_tecnicos/pub_2016_avaliacao_elasmo_2010_2012.pdf

LESSA, R. P.; SANTANA, F. M.; RINCON, G.; GADIG, O. B.; EL-DEIR, A. C. A. Biodiversidade de elasmobrânquios do Brasil. Relatório Nécton-Elasmobrânquios. Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO. Brasília, Ministério do Meio Ambiente (MMA), 1999 Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/296694332_Biodiversidade_de_Elasmobranquios_do_Brasil

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. ICMBio/CEPSUL. 2023. PAN Tubarões: Primeiro Ciclo do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Tubarões e Raias Marinhos Ameaçados de Extinção. Brasília (DF). Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/biblioteca/download/livros_digitais/Biodiversidade/Livro_Pan_Tubar%C3%B5es_2023_vfinal_23_digital_compacto_compressed_1.pdf

WOSNICK, N. et al. Revisão Sobre a Diversidade, Ameaças e Conservação dos Elasmobrânquios do Maranhão. In: Tópicos Integrados de Zoologia. Ponta Grossa, PR (Brasil) Editora Atena, 2019. p. 44-54. Disponível em: https://www.atenaeditora.com.br/index.php/catalogo/ebook/topicos-integrados-de-zoologia


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