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Consequências da interação entre animais domésticos errantes e fauna silvestre

Com o passar dos anos, tem se tornado cada vez mais frequente a criação de cães (Canis lupus familiaris) e gatos (Felis catus) como animais de estimação. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 revelou que mais de 48 milhões de famílias no Brasil são adeptas a essa prática. Em contrapartida, a população de animais silvestres sofre constante ameaça.

Atualmente cerca de 1170 espécies estão sob risco de extinção, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), e os “melhores amigos do homem” são uns dos principais responsáveis por isso. Segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), o gato doméstico sozinho, já é responsável pelo desaparecimento de 22 espécies de aves, 9 de mamíferos e 2 de répteis, e um estudo realizado no Parque Nacional das Emas, em Goiás, expôs que a presença de cães nessa região poderia estar associada à transmissão de parvovírus a gatos-palheiros (Leopardus pajeros), onças-pardas (Puma concolor), lobos-guarás (Chrysocyon brachyurus), cachorros-do-mato (Cerdocyon thous) e jaguatiricas (Leopardus pardalis). Cães e gatos domésticos são tão danosos à conservação e biodiversidade quanto ações antrópicas como atropelamentos e destruição de habitat, sejam eles animais que possuem tutores, porém são permitidos ter acesso a rua, ou aqueles que já foram domiciliados e, em decorrência principalmente do abandono, tornaram-se ferais.

De maneira silenciosa, esses animais dizimam populações inteiras de espécies nativas, sob o respaldo de grande parte da sociedade que acredita que eles estejam apenas exercendo seu papel na natureza por serem predadores natos. Essa concepção é errônea pelo fato de que esses animais ao invadirem o ambiente silvestre se tornam uma espécie invasora, ou seja, não fazem parte daquele ecossistema, e assim, principalmente por não terem predadores naturais, geram um desequilíbrio ecológico muitas vezes irreversível nessas populações.

Além disso, a predação não é a única consequência da invasão ao meio silvestre pelos animais domésticos. Essa interação é responsável pela propagação de diversas doenças infectocontagiosas para a fauna nativa, como parvovirose, cinomose, toxoplasmose entre outras, competição e concorrência por habitat e alimentação com a fauna silvestre, além do hibridismo gerado pelo cruzamento interespécies.

Desse modo, a conservação e manutenção da biodiversidade dependem de esforços advindos tanto de dentro das residências, onde cabe aos tutores manter seus animais com acesso à rua limitado e apenas acompanhados ou sem acesso algum, quanto de organizações governamentais, que devem buscar conscientizar a população acerca das impactos causados por seus animais à fauna silvestre, além de elaborar estratégias como o método CED (captura, esterilização e devolução) que é usado como tentativa de controle populacional de gatos ferais.

O amor e cuidado dedicados pela população aos animais não é legítimo se direcionado apenas para os animais de companhia. Auxiliar na manutenção da biodiversidade é um dever de todos!




REFERÊNCIAS


Gatos domésticos livres causam danos à vida selvagem, aponta estudo. CNN Brasil, 12 de março de 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/2020/03/13/gatosdomesticos-livres-causam-danos-a-vida-selvagem-aponta-estudo. Acesso em: 22/02/2021


New Book Calls for Removal of Outdoor Cats 'By Any Means'. National Geographic, 20 de setembro de 2016. Disponível em: https://www.nationalgeographic.com/animals/article/catwars-book-feral-cats-euthanized. Acesso em: 23/02/2021


Animais domésticos matam bilhões de silvestres e levam espécies à extinção. Bernardo Araújo, 6 de abril de 2020. Disponível em: https://www.oeco.org.br/reportagens/animais-domesticosmatam-bilhoes-de-silvestres-e-levam-especies-a-extincao/. Acesso em: 23/02/2021


O impacto de animais de companhia na fauna silvestre brasileira. Revista Clínica Veterinária, 10 de julho de 2019. Disponível em: https://revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/o-impactode-animais-de-companhia-na-fauna-silvestre-brasileira/. Acesso em: 22/02/2021


O nosso gato, história e biodiversidade ameaçada. Eduardo Pedroso, 1 de junho de 2020. Disponível em: https://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/o-nosso-gatohistoria-e-biodiversidade-ameacada/. Acesso em: 24/02/2021

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