Desmistificando Tyto furcata: conhecendo a verdade por trás dos mitos
- Jordana Paiva
- há 3 dias
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A Suindara (Tyto furcata Temminck, 1827), conhecida também pelos nomes de rasga-mortalha, coruja-das-torres, coruja-da-igreja e coruja-branca, é uma fascinante ave de rapina pertencente à Ordem Strigiformes. É de natureza noturna, com garras curvas e afiadas, além de bico forte. No ambiente natural, sua dieta consiste em pequenos mamíferos, anfíbios, répteis e insetos (SANTIAGO, 2014). Felizmente, esta espécie não é considerada ameaçada, de acordo com a IUCN (União internacional para a Conservação da Natureza).
Além disso, suas características morfológicas são interessantes, pois apresenta um disco facial em formato de coração. Essa adaptação permite melhorar a sua capacidade de audição e caça. Assim como outros rapinantes, a T. furcata é uma caçadora habilidosa. Seu destaque também está na assimetria de seus ouvidos, assim como as corujas do gênero Tyto: seu ouvido esquerdo é ligeiramente mais cranial que o esquerdo (SANTIAGO, 2014), fato esse que permite que a coruja localize fontes de sons em diferentes localizações, acima e abaixo, especialmente à noite. Elas também contém uma visão binocular, o que significa que seus olhos estão posicionados à frente, conseguindo enxergar em três dimensões, tornando a T. furcata em uma caçadora eficiente (SANTIAGO, 2014).
A sua distribuição é ampla, sendo encontrada em diversas regiões brasileiras. Esta espécie é muito adaptável, sendo encontrada em florestas densas e até em áreas urbanas (SILVA, 2021; PONTES, MATTOS, OLIVEIRA, TIELOPO, 2021; ALMEIDA et al., 2022). Na região amazônica, a suindara é uma inspiração para os folclores amazônicos (FERREIRA, NASCIMENTO, 2018), sendo conhecida por alguns como a matinta pereira, uma figura sobrenatural. Acredita-se ser uma bruxa idosa capaz de se transformar em uma coruja, semelhante a T. furcata. De acordo com a lenda amazônica, a matinta emite assobios ou choros durante à noite, gerando temor entre as pessoas e quem desobedecer suas ordens ou desrespeitar tabus culturais pode atrair sua vingança. Além disso, no nordeste brasileiro, essa ave é considerada um mau agouro, porque sua vocalização seria considerada um anúncio de morte, já que sua vocalização se assemelha ao som de uma roupa rasgando.
No entanto, apesar dessas histórias populares terem desempenhado um papel importante durante a construção do imaginário cultural, disseminando ideias de geração a geração, isso pode ter um impacto prejudicial na conservação dessa espécie. Frequentemente, a T. furcata é vítima de maus-tratos, devido ao medo ou ignorância das pessoas sobre sua verdadeira essência (CASCUDO, 2012; ALMEIDA et al., 2022). Essa coruja é comum em áreas abertas ou semiabertas, devido ao seu estilo de voo baixo e gosta também de observar as suas presas, antes de atacá-las, em lugares altos, por isso seu nome “coruja-das-torres”. Assim, o seu contato com a espécie humana é comum, pois é encontrada em áreas urbanas e rurais (CUBAS, 2014).
Além disso, essa rapinante desempenha um papel fundamental como controladora de populações de roedores, lembrando que sua dieta consiste principalmente em pequenos mamíferos, tornando-a uma aliada valiosa na manutenção do equilíbrio ecológico em áreas onde habita. Essa condição desencadeia uma relação benéfica entre a sociedade e corujas (ALMEIDA et al., 2022). No entanto, é evidente que essas corujas são vítimas de violência direta da população que acredita nestas crendices, prejudicando diretamente as dinâmicas populacionais naturais da espécie (ALMEIDA et al., 2022). Esse tipo de situação aumenta a casuística de recebimento desta espécie em centros de triagem de animais selvagens, majoritariamente decorrentes de agressões graves de origem antrópica (ALMEIDA et al., 2022)
Portanto, promover a educação ambiental para conservação e a sensibilização para desmistificação da T. furcata na cultura local é prioridade, principalmente em regiões com tradições orais e crenças enraizadas, destacando a magnitude do papel ecológico que essa coruja pode agregar tanto no meio ambiente quanto no meio antrópico. Quando a sociedade entende a importância daquela espécie, cria-se uma relação forte, contribuindo para a preservação da biodiversidade (ALMEIDA et al., 2022).
Autora: Jordana Paiva - Representante Regional do Norte do GEAS Brasil
Revisão: Iago Junqueira - Parceiro do GEAS BRASIL pela The Wild Place
Painel Selvagem de Julho/2025
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SANTIAGO, M.E.B. Accipitriformes, Falconiformes e Strigiformes (Gaviões, Águias, Falcões e Corujas). In: CUBAS, Zalmir S.; SILVA, João C. R.; CATÃO-DIAS, José L. (org.). Tratado de Animais Selvagens: Medicina Veterinária. 2. ed. São Paulo: Roca, 2014. p. 470-536.
SILVA, F.R.M. Dieta de Tyto furcata (TEMMINCK, 1827) (AVES: STRIGIFORMES) em uma área urbana na região do Triângulo Mineiro, Brasil. 2021. 14 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2021.
PONTES, J.S.; MATTOS, L.X.S.; OLIVEIRA, J.F.N.; TIELOPO, L.M. Small mammals (Rodentia) present in Tyto furcata (Temminck, 1827)(Strigiformes, Tytonidae) pellets from the Reserva Natural da Guaricica, Antonina, coastal Paraná, Brazil. Brazilian Journal of Biology, v. 83, p. e247040, 2021.
ALMEIDA, A.J. et al. Small mammals in the diet of Barn Owls (Tyto furcata) in an urban area in Rio de Janeiro state, Brazil, with a new record of the dwarf mouse opossum (Cryptonanus). Brazilian Journal of Biology, v. 82, p. e237675, 2021.
FERREIRA, R.S.; NASCIMENTO, C.F. O mito da matinta perera e suas formas variantes em Curuçamba, Bujaru (Pará, Brasil). Boitatá, v. 13, n. 25, p. 242-258, 2018.
CASCUDO, L.C. Dicionário do folclore brasileiro. 16. ed. São Paulo: Global, 2012.
ALMEIDA, R.C.R. A coruja suindara (Tyto furcata) e seus estigmas. 2022. 30 f., il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Zootecnia) – Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus Belém, Belém-PA, 2022.
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