As dimensões humanas são uma área de estudo interdisciplinar dentro da área de manejo e conservação da vida silvestre (DECKER, 2012). Ela possui como objetivos: identificar, descrever, entender, predizer e influenciar pensamentos e ações em relação à vida silvestre (MANFREDO, VASKE, SIKOROWSKI, 1996).
Ela está um passo à frente em relação à etnozoologia, que nada mais é que o estudo investigativo dos conhecimentos, dos significados e usos dos animais silvestres nas sociedades humanas (MARQUES, 2002; OVERAL, 1990), pois a dimensão humana é uma ciência que usa várias outras ciências como sociologia, economia, psicologia comportamental, história, política, ecologia, biologia, dentre outras área de conhecimento.
As interações humanas podem ter um impacto positivo ou negativo podendo estar no passado ou presente (ORGAN et al, 2006). Essas interações podem causar conflitos que podem ser reais ou percebidos, de natureza biológica, econômica, social ou política (MESMER, 2009) sendo resultado das relações humanos-fauna ou humanos-humanos por causa da fauna (MADDEN, 2004).
Existe a necessidade de compreender e valorizar as dimensões humanas de áreas de conservação, tomando-se em conta os valores históricos e atuais e seus aspectos socioeconômicos. Entender a dimensão humana nessas áreas requer um estudo aprofundado, pois elas se distinguem por serem únicas em sua organização econômica e social. O Brasil apresenta grande variedade dos modos de vida e culturas (DIEGUES, 1993), em diferentes regiões do país podemos ver a presença de indígenas, pescadores e ribeirinhos, todos mantendo um contato íntimo com a natureza. É esperado que ocorram conflitos em situações onde essas populações são proibidas de manter seus modos de vida, em virtude da criação de uma unidade de conservação.
Entender como as pessoas percebem o ambiente onde vivem é o primeiro passo para compreender o seu envolvimento com o lugar e, portanto, as suas ações individuais e/ou coletivas. Esses estudos procuram compreender como os indivíduos percebem, analisam e se relacionam com o ambiente em que vivem e, principalmente, como eles respondem às situações ambientais existentes. Devemos, portanto, enfatizar a importância de abordagens participativas e estratégias de diálogo afim de envolver essas populações no processo de conservação.
O modelo de unidade de conservação no início, quando foi registrado, tinham como exemplo as áreas protegidas norte-americanas, portanto as perturbações humanas eram excluídas, mantendo apenas a natureza presente no local. A presença humana não é desejada, ela é vista como modelo perturbador, mas essa ideia evoluiu e percebeu-se que a perturbação humana também faz parte da natureza.
No século XX, Aldo Leopoldo, um dos fundadores e maiores pensadores do movimento conservacionista já afirmava e chamava atenção para integração das ciências biológicas e ciências sociais ao mencionar que o manejo de fauna é manejo de gente, ou seja, para fazer ecologia usando a conservação das espécies e dos ambientes, não se pode excluir as pessoas. Ele foi o responsável pela introdução das dimensões humanas na conservação nas áreas protegidas. Portanto, conservação não acontecerá se as pessoas forem excluídas.
REFERÊNCIAS
Decker, D.J., S.J. Riley, e W.F. Siemer, eds. 2012. Human Dimensions of Wildlife Management, second edition. Johns Hopkins University Press, Baltimore.
DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada: populações tradicionais em unidades de conservação. São Paulo, NUPAUB/USP, 1993.
Organ, D.W., Podsakoff, Ph.M. and MacKenzie, S.B. (2006) Organizational Citizenship Behavior: Its Nature, Antecedents and Consequences. Thousand Oaks, CA: Sage Publications.
Madden, 2004 F. MaddenCreating coexistence between humans and wildlife: global perspectives on local efforts to address human-wildlife conflict. Human Dimensions Wildlife, 9 (2004), pp. 247-257.
Manfredo, M.J., J.J. Vaske, and L. Sikorowski. 1996. Human dimensions of wildlife management. Pages 53-72 in A.W. Ewert, ed. Natural resource management: the human dimension. Westview Press, Inc., Boulder, CO.
Messmer, T. A. 2009. Human–wildlife conflicts: emerging challenges and opportunities. Human–Wildlife Conflicts 3(1):10–17.
Overal, W. L. 1990. Introduction to ethnozoology: what it is or could be. In: Posey, D. A. & Overal, W. L. (orgs.). Ethnobiology: implications and applications. MPEG, Belém, Brasil, p.127-129
Comments