Quem nunca encontrou um filhotinho de ave perdido por aí?
Pois é, esse cenário é bastante comum, e muitas pessoas não tem ideia de como deveriam reagir nesse momento, sendo a primeira ação, recolher o pequeno filhote e leva-lo para casa. Entretanto, antes de pensar em recolhê-lo, alguns fatos devem ser levados em consideração, como: “os pais estão nos arredores?”, “o ninho é acessível?”, “ele está bem?”...
Somente em algumas circunstâncias específicas, as aves abandonam sua prole, sendo assim, é importante verificar se o filhote realmente está desamparado.
Somente em algumas circunstâncias específicas, as aves abandonam sua prole, sendo assim, é importante verificar se o filhote realmente está desamparado.
Se os pais estiverem aos arredores e o ninho não for acessível, acondicione o filhote em um lugar seguro de predadores, e que esteja visível aos pais para que estes tenham acesso ao filhote. E observe se os pais realmente estão indo até ele.
Se o ninho estiver acessível, é possível também devolver o filhote ao mesmo, com muito cuidado para não manipula-lo. Observe-o por um tempo para se certificar de que os pais estão retornando ao ninho.
Se a ave tiver alguma alteração que precise de cuidados médicos, procure atendimento com um Médico Veterinário especializado.
Se o filhote foi realmente abandonado, ou caso nenhuma das opções anteriores seja viável,
MUITA ATENÇÃO NESSAS DICAS!
Avalie o animal, com relação ao escore corporal (preenchimento dos músculos peitorais), procurar por ectoparasitas, aumento de volume abdominal, postura, conformação dos membros e bico, alterações de empenamento e a qualidade das fezes.
Acondicione a ave em um ninho artificial, podendo ser uma caixa pequena. O substrato para a construção do ninho deve ser absorvente, promover estabilidade aos pés do filhote e não causar grandes problemas caso seja ingerido.
Os filhotes de aves precisam de FONTE DE AQUECIMENTO, pois os mesmos não têm capacidade de termorregulação. Logo, é necessário ofertar uma fonte de emissão de calor contínua, sendo aproximadamente 30°C a temperatura ambiente ideal para a maioria das espécies, que pode aumentar ou diminuir de acordo com a idade da ave.
Deve-se atentar também a umidade do ninho, que deve estar em torno de 50%, sendo importante a sua manutenção para que a ave não desidrate (baixa umidade), ou haja proliferação de fungos no ninho (alta umidade).
Para alimentação, existem opções de formulações de papinhas artificiais, para diferentes espécies de aves, que podem ser utilizadas até que a ave consiga se alimentar sozinha. É possível confeccionar receitas caseiras, mas em longo prazo o uso da papinha artificial é mais vantajoso, visto que a mesma é formulada para suprir as necessidades do filhote. *a papinha não deve ser reutilizada em refeições subsequentes. > Caso este filhote seja carnívoro, carne suplementada e/ou presa abatida deve ser ofertada para sua alimentação; > O alimento pode ser ofertado em seringas, sondas rígidas (metálicas), sondas maleáveis (sonda uretral cortada), colheres, espátulas pequenas ou pinças. O animal inicialmente pode ser resistente à alimentação, porém se continuar se recusando a comer, pode ser um sinal clínico. > Cuidados devem ser tomados na hora da alimentação, caso sejam utilizadas sondas e seringas, para que se minimize a possibilidade de fazer falsa via.
Segurar a ave de modo seguro, na posição vertical, com o cuidado de não comprimir o corpo, principalmente o esterno, a fim de não prejudicar a sua respiração.
Aves pequenas e de médio porte devem ser contidas com uma mão, com o polegar e o indicador posicionados lateralmente na mandíbula e o corpo posicionado na palma da mão, seguro pelo restante dos dedos.
No caso de utilização de sonda ou seringa, esta esta deve ser gentilmente introduzida no esôfago, tomando cuidado com a glote, posicionar o dedo do lado esquerdo do pescoço, pode assegurar a passagem na via correta. E administrar lentamente para a ave não regurgitar.
> A frequência de alimentação muda de acordo com a idade e o tamanho da ave. Aves menores e mais jovens precisam ter um intervalo menor entre refeições, inicialmente com intervalos de duas horas, aumentando gradualmente o tempo de acordo com o desenvolvimento do filhote. Inicialmente será necessário alimentá-lo inclusive durante a noite.
Importante monitorar o peso da ave, periodicamente.
Aos poucos se deve estimular a ave a comer e beber sozinha, iniciando a preparação do filhote para retornar a natureza.
Importante ofertar banhos de sol diários, de preferência no início da manhã.
A higiene do ninho e dos utensílios de manejo do filhote deve ser rigorosa e frequente, a fim de evitar infecções por agentes oportunistas.
Quando as penas de voo estiverem desenvolvidas, acondicionar o filhote em recinto fechado, e iniciar o estímulo à utilização das asas.
Assim que tiver o desenvolvimento completo, realizando voo e ingerindo alimentos e água por conta própria, é hora de devolvê-lo para a natureza. >Importante verificar a previsão do tempo para realização da soltura. >E soltá-lo onde o encontrou ou próximo do local. > Seria interessante realizar um check up antes da soltura, para assegurar que não haja contaminação do ambiente.
Andressa Kagohara
Médica Veterinária pela UFRRJ – 2017
Bolsista de Apoio Técnico Profissional no Hospital Veterinário da UFRRJ no Setor de Medicina de Animais Selvagens e no Setor de Clínica Médica de Animais de Companhia
Membro da ABRAVAS
FONTES:
Essentials of Avian Medicine and Sugery, 3rd Edition, 2007
Avian Medicine and Surgery in Practice, 2010.
Avian Medicine: Principles and Application, 1994.
Aspectos evolutivos e ecológicos do cuidado parental em aves:
Publicações em ambientes temperados e tropicais, 2010.
doi:10.4257/oeco.2010.1404.05
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