A falcoaria, também chamada de cetreria, é uma arte milenar que teve como objetivo inicial treinar aves de rapina através de colaborações. O animal caçava o alimento para o ser humano, e este oferecia abrigo, cuidados e alimentação para a ave. Não se sabe o local de origem exata, mas achados mostram que a falcoaria teve início entre a Ásia Central, China e Pérsia.
Ao longo do tempo, os rapinantes sempre foram considerados representantes mitológicos e de luxo, inclusive eram mumificados junto aos faraós. No Ocidente, o primeiro relato encontrado dessa interação foi em 500 d.C, na Grécia. A cultura europeia também fortaleceu a ideologia nobre ligada às aves de rapina, associando a falcoaria à sofisticação. Com a chegada nas Américas, percebeu-se que essas aves também já eram treinadas pelos povos nativos americanos, com destaque para o Reino Asteca.
Ao final do século XVIII associações ligadas à prática se organizaram e houve modernização das técnicas, adoção de planejamentos e difusão de conhecimento. Atualmente, a falcoaria é considerada Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO. No Brasil, ainda não é considerada uma atividade regulamentada, mas é contemplada pelo IBAMA através de termos de cooperação regionais. No país, é representada pela Associação Brasileira de Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina - ABFPAR, fundada em 1997.
Mas afinal, para quê serve a falcoaria? Apesar de ter sido usada inicialmente para caça e lazer, hoje são muitas as funções desta atividade. Empresas especializadas no serviço, podem usá-la como método de controle biológico em aterros sanitários, aeroportos, rodoviárias, supermercados e portos, com o objetivo de reduzir os riscos associados à presença de fauna sinantrópica nativa. Por exemplo, no caso de supermercados e portos, a presença de mantimentos e cargas podem atrair roedores. No caso dos aeroportos, os rapinantes são usados para caçar outras aves, como pombos e pardais, os quais podem colidir com as aeronaves e causar acidentes.
Outra função é a de conservação. O seu uso na educação ambiental através de rapinantes treinados, gera ligação com o público-alvo, sensibilizando-os sobre a sua importância no meio ambiente. Apesar das espécies serem vistas como objeto de admiração por parte da população, ainda há a persistência de estigmas no subconsciente de algumas pessoas, que podem vê-las como animais agressivos e até mesmo como sinal de mau agouro, no caso de corujas. Essa visão negativa pode ocasionar casos de violência e traumas às aves, e por isso, a educação ambiental pela falcoaria se faz tão importante.
A falcoaria também é usada como instrumento na reabilitação dos animais traumatizados, tanto através de exercícios que estimulem atividades de voo, quanto de caça. O treinamento também pode auxiliar para programas de reprodução e manejo em zoológicos, como o programa de conservação que tirou a águia-americana (Haliaeetus leucocephalus) da lista de extinção nos E.U.A e como o Projeto de Conservação do Condor Andino (Vultur gryphus) na Argentina e no Chile.
No Brasil, as espécies mais usadas nas práticas são: Falcão-peregrino (Falco peregrinus), Falcão-quiriquiri (Falco sparverius), Falcão-de-coleira (Falco femoralis), Carcará (Caracara plancus), Gavião-carijó (Rupornis magnirostris), Gavião-de-cauda-branca (Geranoaetus albicaudatus) e o Gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus). Os falconiformes são mais utilizados devido à sua anatomia - asas estreitas e cauda longa, as quais proporcionam maior manobrabilidade, velocidade e, consequentemente, alta potência nos voos de perseguição.
O tráfico e o número de apreensões de aves de rapinas silvestres é um problema mundial marcante. Rapinantes debilitados e traumatizados podem ser cada vez mais reabilitados através da prática da falcoaria. Esta atividade, apesar de ainda ser pouco difundida no Brasil, se mostra benéfica, tanto para os animais quanto para o ser humano, se realizada com planejamento e por profissionais qualificados.
Caso queira entender um pouco melhor a prática do treinamento e as ferramentas utilizadas na falcoaria, confira as referências que deixamos disponíveis para vocês!
REFERÊNCIAS
ABFPAR – Objetivos. Disponível em: <http://abfpar.org/abfpar/abfpar/objetivos/ .
Acesso em: 13 de fevereiro de 2021.
BRANDÃO, A. P. M. O. Uso e aplicações da falcoaria por empresas de
consultoria ambiental no Brasil. Orientadores: Anderson Abbehusen Freire de
Carvalho e Nathália Diniz Bastos e Silveira. 2019. Tese (Bacharelado em
Ciências Biológicas) - Universidade Católica de Salvador, Salvador, 2019.
COSTA, A. R. S et al. Falcoaria: Introdução e Técnicas. Orientadora: Ana Paula
Zampirolli. 2003. Tese (Graduação em Ciências Biológicas) - Universidade do
Grande ABC, Santo André, 2003.
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