top of page

Febre maculosa brasileira, capivara e o carrapato estrela: entendendo esta relação

Os carrapatos são parasitas hematófagos que atuam na transmissão de patógenos para humanos e animais, sendo o principal vetor de doenças para os animais não humanos. No Brasil, é de extrema valia destacar a Febre Maculosa Brasileira, zoonose com importância para a saúde pública, visto que esta possui uma alta letalidade para seres humanos.

A doença tem como agente etiológico a bactéria Rickettsia rickettsii, uma bactéria gram negativa e seu vetor é o carrapato Amblyomma sculptum, conhecido como carrapato estrela, agressivo para seres humanos. Este carrapato é típico de animais como o cavalo, a anta (Tapirus terrestris) e a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris).

Para melhor entender este cenário no Brasil, é preciso destacar que com a perda crescente de habitats naturais, há uma aproximação entre vida silvestre e seres humanos, e consequentemente, o fluxo de parasitas e patógenos tende a aumentar.

Naturalmente, as capivaras são reservatórios para a doença, além disso são conhecidas como animais amplificadores, isto é, quando picada por um único carrapato infectado, passa um período com a bactéria circulante em seu organismo, período este conhecido como Riquetsmia. Durante este tempo, carrapatos presentes neste animal que não estavam infectados, se infectam.

Considerando que esses animais albergam um número expressivo de carrapatos, cerca de 2800, a quantidade de vetores que passam a ser portadores da bactéria é expressiva. É importante destacar que após a capivara entrar em contato com a bactéria e passar pela infecção, ela não irá se infectar novamente, pois possuirá anticorpos para o antígeno Rickettsia rickettsii.

As capivaras encontram no meio urbano, um ambiente favorável, visto que há a ausência de um predador natural, abundância de alimento e há uma crescente aproximação com os seres humanos. Com estas condições, somado a capacidade do animal gerar uma grande prole, cada vez mais, temos animais que não são imunes a bactéria e susceptíveis ao período de infecção.

Esses animais estão presentes nos ambientes antropizados em locais com corpos d’água, como lagos, parques, rios e até mesmo clubes de lazer. Além disso, tem crescido a sua popularidade entre seres humanos, sendo conhecido como um animal extremamente carismático. Com isto, as pessoas são susceptíveis a picadas dos carrapatos devido a presença destes animais e do carrapato em ambientes urbanos.

Para a transmissão da doença, o carrapato deve estar infectado e os principais sintomas são febre alta, dor de cabeça e muscular e o aparecimento de erupções cutâneas caracterizada como máculas. O tratamento é eficaz, sendo a grande problemática no Brasil, o fato da doença ser subdiagnosticada, visto que a sintomatologia se assemelha com outras doenças.

Diante o exposto, não se aproxime de nenhum animal silvestre e não os alimente! Apesar de serem carismáticos, albergam diversos patógenos que podem ser transmissíveis aos seres humanos.

Ademais, evite contato com áreas onde há a presença de carrapatos. Caso esteja em ambiente verde, utilize roupas claras que cubram seus braços e suas pernas, inspecione seu corpo de 3 em 3 horas. Caso tenha ido à área provável de infecção e comece a sentir sintomas, procure imediatamente atendimento médico.



REFERÊNCIAS:


Labruna MB. Brazilian SPOTTED FEVER: The Role of Capybaras. In: Moreira JR, Ferraz KMPMB, Herrera EA, Macdonald DW, eds. Capybara: Biology, Use and Conservation of an Exceptional Neotropical Species. New York: Springer Science Business Media; 2013. p. 371-383.


Pinter A. Febre maculosa brasileira - vigilância acarológica e controle. In: Meira AM, Cooper M, Ferraz KMPMB, Monti JA, Caramez RB, Delitti WBC. Febre maculosa: dinâmica da doença, hospedeiros e vetores. Piracicaba: Universidade de São Paulo; 2013.


Moreira JR. Capivaras: biologia, ecologia e controle. In: Meira AM, Cooper M, Ferraz KMPMB, Monti JA, Caramez RB, Delitti WBC, et al. Febre maculosa: dinâmica da doença, hospedeiros e vetores. Piracicaba: Universidade de São Paulo; 2013.


Krawczak FS, Nieri-Bastos FA, Nunes FP, Soares JF, Moraes-Filho J, Labruna MB. Rickettsial infection in Amblyomma cajennense ticks and capybaras (Hydrochoerus hydrochaeris) in a Brazilian spotted fever-endemic area. Parasites & Vectors. 2014;7:7.


Estrada-Peña A, Guglielmone AA, Mangold AJ. The distribution and ecological 'preferences' of the tick Amblyomma cajennense (Acari: Ixodidae), an ectoparasite of humans and other mammals in the Americas. Annals of Tropical Medicine and Parasitology. 2004;98(3):283-292.


Queirogas VL, Del-Claro K, Nascimento AR, Szabó MP. Capybaras and ticks in the urban areas of Uberlândia, Minas Gerais, Brazil: ecological aspects for the epidemiology of tick-borne diseases. Experimental & Applied Acarology. 2012;57(1):75-82.


Jongejan F, Uilenberg G. The global importance of ticks. Parasitology. 2004;129 Suppl:S3-14. doi: 10.1017/s0031182004005967. PMID: 15938502.


Perez, CA, Almeida, AF, Almeida, A., Carvalho, VHB, Balestrin, DC, Guimarães, MS, et al. (2008). Carrapatos do gênero Amblyomma (Acari: Ixodidae) e suas relações com hospedeiros em área endêmica para febre maculosa no Estado de São Paulo. Rev. Bras. Parasit. Vet . 17, 210-217.

287 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page