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Fiv e FeLV em felinos selvagens

A família Felidae engloba espécies de significativa relevância ecológica, pois desempenham papéis essenciais em toda a cadeia trófica. No entanto, assim como felinos domésticos, os felídeos selvagens também enfrentam uma série de desafios de saúde, incluindo doenças virais. Para esta família, duas doenças virais se destacam: a Imunodeficiência Felina Viral (Fiv) e a Leucemia Felina Viral (FeLV). Ambas são particularmente preocupantes para a área de conservação destas espécies, cujo conhecimento e manejo clínico são de grande relevância para os profissionais de saúde animal.

Fiv e FeLV são relativamente comuns em gatos domésticos. No entanto, ainda se investiga qual é o impacto desses vírus em felídeos selvagens. Ambas são causadas por vírus da família Retroviridae e afetam felídeos em geral, enfraquecendo seus sistemas imunológicos e tornando-os mais suscetíveis a infecções secundárias. A imunodeficiência felina (FIV) age lentamente comprometendo o sistema imunológico do animal contaminado, já a leucemia felina (FeLV) também realiza uma imunossupressão, podendo potencialmente desenvolver anemia e linfoma. A transmissão pode ocorrer verticalmente, de mãe para filhote, ou horizontalmente, por meio de mordeduras ou arranhões por felídeos contaminados. Acredita-se que possa haver uma relação indireta na transmissão entre gatos domésticos e selvagens, mas até o momento,

existem poucos estudos a respeito desse tema.

Seja a Fiv ou a FeLV, ambas possuem prognóstico reservado. No entanto, a Fiv permite que o animal contaminado possua uma vida mais saudável e longeva, se tratada corretamente. Já a Felv, por possuir a característica de formações neoplásicas e hematológicas, acaba acarretando em uma maior severidade de apresentação e portanto sendo de maior dificuldade o tratamento.

Atualmente, já existem casos registrados em diversas espécies, como leões (Panthera leo), pumas (Puma concolor), tigres (Panthera ilves), leopardos (Panthera pardus), onças (Panthera onca), guepardos (Acinonix jubatus), linces (Lynx rufus), jaguatiricas (Leopardus pardalis), gatos-palheiro (Leopardus colocolo), gatos-maracajás (Leopardus wedii), e gatos-do-mato (Leopardus tigrinus). No entanto, até o momento, os relatos indicam que o vírus não possui alta patogenicidade em animais silvestres, ou seja, eles podem portar o vírus sem necessariamente

desenvolver sinais clínicos ou imunossupressão.

O gato-selvagem-europeu (Felis ilvestres ilvestres) é a espécie em que a FeLV é mais frequentemente relatada em populações de vida livre, sugerindo uma alta prevalência e indicando que o vírus é mantido em circulação dentro de um ciclo silvestre natu

al nessas populações (HOFMANN-LEHMANN, comunicação pessoal; DANIELS et al., 1999; FROMONT etal., 2000; LEUTENEGGER et al., 1999a).

Um caso recente registrado envolveu uma onça-parda na Área de Preservação Ambiental (APA) Macaé de Cima (Cidade-ES). Após ser resgatada pela polícia ambiental e veterinários, o animal passou por exames de check up e foi testado para Fiv e Felv, apresentando resultado positivo mesmo sendo assintomática. O quadro da onça-parda levantou questões sobre a possibilidade, biosseguridade e viabilidade de sua soltura, ou encaminhamento para uma instituição ou mantenedouro adequado ou, infelizmente, a necessidade de eutanásia, devido à falta de condições adequadas para mantê-la e possibilidade de transmissão para outros felinos sob cuidado humano.¹

Faltam estudos in situ na área para um melhor entendimento da patologia e de como ela afeta os felídeos selvagens. O aumento no número de animais soropositivos pode se tornar preocupante devido à alta disseminação da doença e pode estar associado a mudanças

ecológicas no habitat natural, no hospedeiro ou no patógeno. Atualmente, com base nos estudos presentes, a patologia não possui caráter epidémico de surto, porém vale ressaltar que é importante aprofundar os conhecimentos sobre tais para melhor manejo e conservação desses animais tão importante na natureza.


¹não houve mais atualizações sobre o caso


Referências:

O Globo. (2023, maio 11). Onça-parda com Aids felina pode ser sacrificada se não conseguir adoção. https://oglobo.globo.com/um-so-planeta/noticia/2023/05/prisao-perpetua-ou-morte-conheca-a-historia-da-onca-parda-que-vive-drama-causado-pela-acao-humana.ghtml


Paulo, S. (s.d.). Exposição de felídeos selvagens a agentes infecciosos selecionados. Usp.Br. Recuperado em 8 de setembro de 2023, de https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10133/tde-26012007-171939/publico/ClaudiaFiloni.pdf


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