A diversidade biológica do Brasil é amplamente reconhecida, estimando-se que existam aproximadamente 700 espécies de mamíferos silvestres (Paglia et al., 2012). No Rio Grande do Sul, a riqueza de mamíferos chega a cerca de 180 espécies, agrupadas em 10 Ordens, destas, temos 25 espécies de carnívoros (Gonçalves et al., 2014), incluindo o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), um canídeo representativo da região.
O graxaim-do-campo, também referido como raposa-do-campo ou Pampa´s fox, possui atributos físicos que o distinguem de outros canídeos. Sua coloração é cinza-amarelada com patas longas e finas, cobertas por pelos curtos e claros, contrastando-se com suas grandes orelhas. Estes animais podem atingir até 74 cm de altura e pesar aproximadamente 6 kg, Atingem sua maturidade sexual por volta dos 8 a 12 meses (Crespo, 1971; Redford; Eisenberg, 1992). Um fato interessante sobre essa espécie são as práticas monogâmicas, ou seja, os pares permanecem juntos desde o acasalamento até que os filhotes estejam prontos para sair da toca (Lucherini et al., 2004).
O período de gestação dura aproximadamente 60 dias, sendo que, as fêmeas podem gerar entre 1 e 8 filhotes, que geralmente nascem na primavera. Antes de se tornarem independentes, os filhotes são amamentados por dois meses (Crespo, 1971). Embora vivam juntos durante a criação dos filhos, os adultos costumam ser solitários durante suas viagens.
Os L. gymnocercus possuem uma dieta variada que engloba pequenos vertebrados, invertebrados e frutas, o que o qualifica como um animal onívoro (Farias; Kittlein, 2008; Garcia; Kittlein, 2005). Apesar de realizar atividades tanto durante o dia quanto à noite, seus costumes são majoritariamente noturnos (Vieira; Port, 2007; Faria-Corrêa et al., 2009).
Esta espécie é encontrada no centro-leste da América do Sul, estendendo-se do sudeste do Brasil até o leste da Bolívia. Os campos abertos, como os pampas, cerrados e Chacos, são o seu habitat natural (Lucherini et al., 2004). Apesar de tolerar algumas ações humanas, como o crescimento urbano, a transformação do seu habitat natural em regiões agrícolas representa uma das maiores ameaças à sua existência. Surpreendentemente, a devastação da Mata Atlântica tem estimulado a disseminação da espécie para regiões, como os campos de Santa Catarina e Paraná, com ocorrências recentes em São Paulo.
Outros fatores, além das alterações no habitat, impactam o graxaim-do-campo, sendo eles à caça, que ocorre em resposta à predação de animais domésticos por estes animais, A espécie é susceptível a diversas doenças de cães domésticos, tais como a parvovirose, cinomose, coronavírus, brucelose e outras enfermidades (Hubner et al., 2010), contudo, essa predisposição não afeta de forma significativa as ameaças à espécie, a IUCN os classifica como "Menos Preocupante" (LC), devido à sua vasta distribuição e conectividade populacional entre os países vizinhos (Jiménez et al., 2008).
A expectativa de vida desses animais em cativeiro chegou há 14 anos (Jones 1982; Lucherini; Vidal 2008). No entanto, em vida livre, a expectativa de vida desses animais é de apenas alguns anos, com índices de sobrevivência de 7% para animais adultos e 21,8 % para animais jovens (Crespo 1971).
No contexto de conservação, é crucial estabelecer e expandir áreas protegidas, como parques e reservas, para proporcionar um abrigo seguro para a espécie. Os corredores ecológicos podem facilitar a ligação entre populações, intensificando o fluxo genético e a resistência da espécie em longo prazo. Ademais, ações de educação ambiental são essenciais para sensibilizar as comunidades acerca da relevância ecológica do graxaim, particularmente na gestão de pragas na agricultura. A proteção da espécie requer ações conjuntas, com a realização de estudos constantes sobre sua genética, ecologia e saúde, para criar estratégias de conservação efetivas. Finalmente, a cooperação entre governos, ONGs, comunidades locais e empresas é vital para assegurar que o graxaim-do-campo continue desempenhando sua função ecológica, principalmente no controle de pragas agrícolas e na preservação do equilíbrio ecológico.

Autora: Maria Eduarda Panisson Balzan – Representante Regional Sul
Referências:
GONÇALVES, L. G. et al. Mamíferos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Pacartes, 2014. 212 p. Ilustrado. ISBN 978-85-62689-93-2.
PAGLIA, A. P. et al. Lista anotada dos mamíferos do Brasil / Annotated Checklist of Brazilian Mammals. 2. ed. Arlington, VA: Conservation International, 2012. (Occasional Papers in Conservation Biology, n. 6). 76 p.
QUEIROLO, D.; KASPER, C. B.; BEISIEGEL, B. M. Avaliação do estado de conservação dos carnívoros: avaliação do risco de extinção do graxaim-do-campo Lycalopex gymnocercus no Brasil. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2013. Disponível em: https://icmbio.openjournalsolutions.com.br/index.php/BioBR/article/view/383/290.
CRESPO, J. A. Ecología del zorro gris Dusicyon gymnocercus antiquus (Ameghino) en la Provincia de La Pampa. Revista del Museo Argentino de Ciencias Naturales, v. 1, p. 147- 205, 1971.
REDFORD, K. H.; EISENBERG, J. F. Mammals of the Neotropics: the southern cone. Chicago: The University of Chicago Press, 1992. 430 p.
LUCHERINI, M.; PESSINO, M.; FARIAS, A. A. Pampas fox Pseudalopex gymnocercus (G. Fischer, 1814). In: SILLERO-ZUBIRI, C.; HOFFMANN, M.; MACDONALD, D. W. (orgs.). Canids: foxes, wolves, jackals and dogs. Status survey and conservation action plan. IUCN/SSC Canid Specialist Group, 2004. p. 63-68.
GARCÍA, V. B.; KITTLEIN, M. J. Diet, habitat use, and relative abundance of pampas fox (Pseudalopex gymnocercus) in northern Patagonia. Mammalian Biology, v. 70, n. 4, p. 218-226, 2005.
VINNICÍUS, M. Graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus). Tudo Raposa, 2024. Disponível em: https://tudoraposa.com.br/especies/lycalopex/graxaim-do-campo/.
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