top of page

Hemocromatose em Ranfastídeos

A hemocromatose é uma patologia caracterizada pelo acúmulo excessivo de ferro no organismo do animal. Esse acúmulo acontece em forma de hemossiderina, que é um pigmento amarronzado produzido naturalmente por todos os animais, resultante da destruição da hemoglobina. Assim, há o acometimento de vários órgãos, em especial, o fígado, que vai perdendo suas funções gradativamente.

A família dos Ranfastídeos abrange os Tucanos e todas as espécies de Araçaris. Ela mostra-se claramente mais afetada por essa patologia por seus exemplares serem sensíveis, até mesmo, à pequenas elevações de ferro em sua dieta, já que desenvolveram um eficiente mecanismo de absorção desse mineral. Importante ressaltar que é uma doença multifatorial: há essa predisposição genética; o excesso de ferro e/ou vitamina C na dieta (a vitamina C potencializa absorção, assim, a oferta de alimentos ricos dessa vitamina devem ser bem restrita) e também a alta oferta de frutose e sacarose já foi correlacionada com o aumento de ferro. Existem relatos de casos de hemocromatose em Psitacídeos também, só que é bem mais raro. E como curiosidade, dentre os psitacídeos, o Lóris mostra-se mais afetado por essa patologia, mas ainda não se entende ao certo a razão disso.

Os sinais clínicos são inespecíficos e normalmente estão relacionados com o acometimento do fígado. Além de que, geralmente, as aves não apresentam manifestações clínicas, podendo morrer sem qualquer sinal (Cubas, 2008). Dentre os sinais pode ser observado: apatia, anorexia, perda de peso, dispneia, hepatomegalia, má aparência das penas, entre outros.

Essa falta de sinais clínicos patognomônicos faz com que o diagnóstico clínico seja muito difícil, para não dizer impossível. Assim sendo, para auxiliar no diagnóstico faz-se uso de exames complementares como o hemograma, além de também ser recomendado exames bioquímicos como dosagem de lactato desidrogenase, aspartato transaminase, ácidos biliares, ferritina, capacidade total de ligação de ferro e índice de saturação da transferrina, por exemplo. O diagnóstico definitivo só é feito pela biópsia hepática (Cork, 2000; Cubas, 2008). Como achados post-mortem temos: congestão hepática, alteração na coloração hepática para a cor ferrugem, focos necróticos no fígado, e agregação de macrófagos pigmentados (Cubas, 2008; Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010).

O tratamento é longo e sua eficácia ainda é questionada. Esse ácumulo de ferro pode ser retirado por meio de flebotomias semanais (já foram feitos estudos em que o volume retirado era equivalente a 1% do peso da ave por semana). Como também faz-se uso de agentes quelantes (que são substâncias atóxicas capazes de ”sequestrar” íons metálicos) como a deferoxamina e a deferiprona. Sempre importante se atentar ao uso de quelantes para que o animal não apresente deficiências de outros metais (Cork, 2000; Cubas, 2008). Além de ser essencial restringir a oferta de vitamina C.

Destarte, torna-se visível a importância de se atentar a hemocromatose nesses animais, principalmente aos criados em cativeiros ou mantidos em Zoológicos e similares, por exemplo, por ser a maior causa de óbito desses, com um prognóstico sempre muito reservado. O foco deve estar na prevenção, principalmente na oferta de dietas com baixos níveis de ferro - rações com no máximo 80 partes por milhão de ferro, pode-se associar também quelantes naturais à dieta, como taninos, fibras e fitatos (Cubas, 2008; Cork, 2000).

No entanto, a carência de pesquisas para a formulação de dietas adequadas às espécies silvestres domesticadas torna-se um grande obstáculo. O acúmulo de ferro no corpo é gradativo e isso somado ao fato de que esses animais "escondem" sinais de fraqueza dificulta um tratamento precoce.



REFERÊNCIAS


Cubas ZS (2008) Siderose hepática em tucanos e araçaris. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias do Departamento de Medicina Veterinária, Setor de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Paraná- UFPR.


Cubas ZS (2007) Piciformes (tucanos, araçaris, pica-paus). In: Cubas, Z.S.; Silva,J.C.R.; Catão-Dias, J.L. Tratado de Animais Selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Editora Roca, p.210-221.


BAGGIO JÚNIOR, R.; PITA, M.C.G. A importância do cálcio e fósforo na nutrição de psitacídeos e passeriformes – uma revisão. PubVet, v.7, n.19, ed.242, art.1596, outubro 2013.Veterinária, v.9, n.53, p.44-50, nov/dez 2004.


SILVA, J.M.M., SANTOS, A.L.Q., HIRANO, L.Q.L., PEREIRA, H.C. Desenvolvimento de tucanostoco jovens alimentados com ração canina e ração para tucanos. Rev. Bras. Saúde Prod. An., v.12, n.3, p.739-749, jul/set 2011.


SPALDING, M.G.; KOLLIAS, G.V.; MAYS, M.B.C.; PAGE, D.; BROWN, M.G. Hepatic encephalopathy associated with hemochromatosis in a toco toucan. Javma - Journal of the American Veterinary Medical Association, v.189, n.9, nov 1986.







382 visualizações0 comentário
bottom of page