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Maria Isabel Silva Cunha

Importância Ecológica dos Manguezais

O manguezal é um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho e, na maioria das vezes, abrigado por rios, lagoas ou lagunas, compreendendo áreas de estuário. Abrange cerca de 14 mil km2 da costa brasileira, que vão desde o Amapá até Santa Catarina, fazendo do Brasil o país com a maior extensão contínua de manguezais do mundo. Esse ecossistema é comumente estigmatizado como um ambiente insalubre devido à lama e ao cheiro característico. Contudo, os manguezais possuem elevada importância ambiental e socioeconômica, atuando, ainda, como berçário da vida marinha e tendo um papel essencial na captura das altas taxas de carbono presentes na atmosfera. O ecossistema mangal se caracteriza como uma das áreas de mais elevada importância ecológica. Seu solo lamacento, rico em matéria orgânica, serve de substrato para os mangues, vegetação típica desse ecossistema, que são bem adaptados a ambientes com água salobra, ou até mesmo salgada, e com reduzida disponibilidade de oxigênio. Os mangues possuem raízes aéreas que, além de atenuar processos de erosão na costa, também realizam as trocas gasosas com o meio.

A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os grandes berçários naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras. Dessa forma, cerca de 70% a 80% das espécies de importância econômica passam pelo menos uma fase da vida nos sistemas de manguezal. Os filhotes permanecem entre os mangues durante seus primeiros estágios de desenvolvimento, aproveitando o ambiente mais calmo, onde as raízes das árvores dão proteção a eles. Como é um ambiente cheio de nutrientes, os filhotes também conseguem se alimentar sem grandes dificuldades.

Os mangues ainda atuam como filtro biológico, título conferido decorrente da capacidade de degradar matéria orgânica e absorver muitos nutrientes. Se a água do rio vir contaminada e poluída, os mangues a filtram, retendo as substâncias e absorvendo nutrientes, acumulando-os em sua biomassa. Essa grande taxa de matéria orgânica presente nos manguezais é a responsável pela captura do gás carbônico. Um estudo realizado por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos demonstrou que cada hectare de manguezal contém cerca de duas vezes mais carbono que a mesma área de floresta equatorial. Esse valor pode ser ainda maior, se comparado a outros biomas, como a caatinga.

Além de toda importância ambiental, os manguezais também são fundamentais no aspecto socioeconômico, visto que são a subsistência de grande quantidade de populações pesqueiras e ribeirinhas. É nos mangues que se encontram uma diversidade de peixes, crustáceos, moluscos, aves e até alguns mamíferos. Esses animais, além de serem fonte de renda, também são fonte de alimento para essas comunidades. A extração de madeira dos manguezais também ocorre, só que de maneira seletiva e mediante autorização, com foco na confecção dos petrechos, ranchos de pesca (residência temporária dos pescadores), e lenha (parte seca das árvores coletadas). Das árvores do manguezal são utilizadas ainda diferentes partes da planta com finalidades medicinais e são usadas, ainda, as colmeias nativas para extração de mel.

Apesar de sua relevância, os manguezais brasileiros são vulneráveis a uma série de ameaças, como a perda e fragmentação da cobertura vegetal e a deterioração da qualidade dos habitats aquáticos, em consequência da poluição e das mudanças na hidrodinâmica. A preservação dos manguezais contribui para as ações que retardam as mudanças climáticas, devido à eficiente capacidade de fixar e acumular carbono, além de proteger a fonte de renda das comunidades que vivem próximas aos mangues. O uso sustentável desse ecossistema é a melhor alternativa para as comunidades tradicionais e setores que dependem diretamente dele que, dessa forma, mantêm e respeitam os aspectos ecológicos.

Todos esses fatores ressaltam a importância de políticas que visem a conservação dos manguezais, e não a concretização da sua degradação, como se tem feito.


REFERÊNCIAS

A importância dos manguezais, que ficam desprotegidos com decisão do governo Bolsonaro. UOL Notícias, São Paulo, 28 de setembro de 2020. Meio Ambiente. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/bbc/2020/09/28/a-importancia-dos-manguezais-que-ficam-desprotegidos-com-decisao-do-governo-bolsonaro.htm. Acesso em: 31/01/2021.

ALMEIDA FILHO, Eduardo; TOGNELLA, Mônica; LIMA, Karen. Panorama da Conservação dos Manguezais Brasileiros: Distribuição das Reservas Extrativistas. Enciclopédia Biosfera, v. 17, n. 33, 2020.

ICMBIO. Atlas dos manguezais do Brasil. 2018.

Manguezal armazena mais carbono que floresta. Revista Fapesp, edição 272. Outubro de 2018.

NANNI, Henrique Cesar; NANNI, Sueli Medeiros; SIGNINI, R. C. A importância dos manguezais para o equilíbrio ambiental. II simpósio internacional de ciências integradas Da UNAERP campus Guarujá, 2005.

NOAA. What Is Blue Carbon? National Ocean Service website, https://oceanservice.noaa.gov/facts/bluecarbon.html. Acesso em: 02/02/2021.

RABELO, Thiara Oliveira et al. A Contribuição da Geodiversidade na prestação dos Serviços Ecossistêmicos do manguezal. Revista de Geociências do Nordeste, v. 4, p. 281-297, 2018.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. A. R. A. Sistema manguezal. 2016. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Instituto de Energia e Ambiente, Universidade de São Paulo, Brasil.

SOUZA, Caroline A. et al. Biodiversidade e conservação dos manguezais: importância bioecológica e econômica. Educação Ambiental sobre Manguezais. São Vicente: Unesp, p. 16-56, 2018.

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