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Mixomatose em coelhos-domésticos (Oryctolagus cuniculus) e o risco de spillover em mamíferos selvagens

Foto do escritor: Joana de Bairros NerisJoana de Bairros Neris


A mixomatose é uma doença viral, cujo vírus responsável pode ser classificado como um dos maiores vírus existentes, pertencente à Família Poxviridae. Esta Família possui duas Subfamílias, a Chordopoxvirinae, que acomete vertebrados, e a Entomopoxvirinae, que acomete insetos. O genoma viral é composto por uma única molécula de DNA linear de cadeia dupla, além de possuírem uma estrutura denominada “vírion”, que dá ao vírus maiores quantidade de enzimas e fatores auxiliares. O ciclo reprodutivo é inteiramente no citoplasma da célula hospedeira. O vírus possui formato retangular ou ovóide com simetria complexa, geralmente revestidos de um envelope lipídico. Os poxvirus atingem diferentes classes de animais e possuem grande potencial zoonótico (FLORES, E. C, 2007). 


A patogenia ocorre a partir do contato direto com coelhos ou com vetores artrópodes (mosquitos, ácaros, pulgas, piolhos e moscas) contaminados pelo Myxoma virus. Os sinais clínicos são específicos, ocorrendo febre, descarga ocular serosa à blefaroconjuntivite produtiva mucopurulenta, edema nas regiões conjuntivais, nasais, labiais, auriculares e genitais. É comum também, a formação de pápulas vesiculadas e gelatinosas nestas mucosas, que tendem a se generalizar dando um aspecto denominado “face leonina”. O diagnóstico ocorre por métodos histopatológicos, como PCR, microscopia eletrônica, ELISA e teste de fixação de complemento. O controle da doença é dado pelo controle de coelhos infectados pelo vírus (MYXV), e pela realização de eutanásia nos animais acometidos.  A mixomatose é uma doença de notificação obrigatória segunda a Organização Mundial de Saúde Animal (AZEVEDO, J.B. et al, 2014; ANDRADE, A. et al. ANO). 


Em março de 2019, foi recebido no ambulatório de animais selvagens da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), um macho adulto de ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis), com edema em região palpebral, labial, escrotal e perianal. O animal também apresentava hiperemia e ulceração palpebral e nasal,  além de secreção ocular e nasal, de aspecto mucopurulento (SCHLEMPER, A. E. et al, 2021). O ouriço foi tratado inicialmente para choque anafilático, mas veio a óbito depois de quatro dias. Devido a semelhança dos sinais clínicos com o mixoma de coelhos, foi realizada necropsia e exame histopatológico, com a descoberta de um novo poxvirus. A análise molecular das amostras teciduais e estudo filogenético estão descritos no trabalho de Hora et al (2021).

A descoberta de uma nova espécie de poxvírus, causando doença grave em ouriços-cacheiro deve ser cercado de cautela. Independentemente da origem, seu potencial zoonótico deve ser monitorado, tendo em vista que os vírus dessa família já tiveram grande impacto na saúde humana, como é o caso da varíola (HOCHMAN, 2011). Este achado reforça a importância e os cuidados que devem ser atribuídos ao manejo de animais selvagens na interface com áreas antropizadas. 


Autor: Joana de Bairros Neris – Diretora de Secretaria do GEAS Brasil

Revisão: Iago Junqueira - Parceiro do GEAS Brasil pela The Wild Place


Painel Selvagem de Dezembro/2024



Referências Bibliográficas:

FLORES, E. C. Virologia Veterinária. Ed. UFSM, Santa Maria, 2007


AZEVEDO, J.B. et al. Mixomatose em coelho doméstico criado como animal de estimação em Mato Grosso. PUBVET, Londrina, V. 8, N. 7, Ed. 256, Art. 1694, Abril, 2014. 


ANDRADE, A., PINTO, SC. e OLIVEIRA, R. S. Principais Doenças dos Coelhos. Animais de Laboratório, p. 105. 2002.  ISBN: 85-7541-015-6. Editora Fiocruz. Rio de Janeiro. 


HOCHMAN G. Vacinação, varíola e uma cultura da imunização no Brasil. Ciência e Saúde coletiva. v.16 n.2. p. 375-386. 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413- 81232011000200002 


HORA A. S., TANIWAKI S. A., MARTINS N. B., PINTO N. N. R., SCHLEMPER A. E., SANTOS A. L. Q., SZABÓ M. P. J., BRANDÃO P. E. Genomic Analysis Of A Novel Poxvírus Brazilian Porcupinepox Virus. Emerging Infectious Diseases. v.27 n.4. 2021. ISSN: 1080-6059 


SCHLEMPER, André Eduardo. Aspectos clínico-patológicos da infecção de ouriço-cacheiro de vida livre (Coendou prehensilis) com poxvirus (Brazilian Porcupine Poxvirus - BPOPV). 2021. 14 f. Trabalho de Conclusão de Residência (Residência em Medicina Veterinária) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2021.


 
 
 

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