Quando pensamos em animais silvestres somos capazes de citar animais completamente diferentes uns dos outros, seja por seu padrão de pelagem, seu habitat, sua alimentação, sua locomoção entre outros. Para além do que podemos ver, a genética e o metabolismo das espécies variam muito e isso nos proporciona algumas surpresas: você sabia que estima-se que o animal mais velho do mundo tenha 519 anos?
Isso quer dizer que o seu nascimento foi por volta de 1505. Também quer dizer que ele estava em seu habitat quando o Brasil foi “descoberto”, durante o surto da peste bubônica em Londres, e que ele continua lá após a pandemia da varíola, 2 guerras mundiais, a pandemia do COVID e vários outros acontecimentos históricos. Mas que animal é esse que nasceu no século 16?
Este animal multi centenário pertence a espécie Somniosus microcephalus (Bloch & Schneider, 1801), cujo nome científico significa “sonolento de cabeça pequena”, é uma espécie de, da Classe peixe chordata, da classe Chondrichthyes e Ordem squaliformes, também conhecido como tubarão-da-groenlândia (IUCN, 2019). Seu nome científico vem do fato de serem animais lentos, nadando a menos de 3km/h. Seu metabolismo também é lento, de forma que esses animais crescem cerca de 1 cm por ano (National Geographic, 2024). A princípio, apesar do seu nome, o tubarão não está presente apenas na Groenlândia, no Oceano Ártico, mas também no Atlântico Norte e no alto Ártico russo, ou seja, vivem em águas frias, podendo chegar a - 2 graus Celsius. Ele pode ser visto na superfície a até 2700 m de profundidade (IUCN, 2019). Seu tamanho varia entre 2m e 4,5m, mas é possível chegar a 7m, sendo a fêmea maior que o macho (NIELSEN, J. et al, 2020).
O indivíduo de 518 anos foi registrado, pela última vez, em 2023, por pesquisadores, no mar do Caribe. A espécie em si é pouco estudada devido à dificuldade em encontrá-la e este último aparecimento levantou a hipótese de que a sua área de ocorrência é maior do que imaginávamos, ou que já podemos ver impactos das ameaças antrópicas refletindo em seu comportamento. Diferente de outros tubarões, a idade dessa espécie não é estimada pelos anéis de crescimento de suas vértebras, pois elas não dispõem desses anéis. A idade desses tubarões é calculada através de camadas do cristalino no olho, que crescem durante toda a sua vida, e por meio de datação de rádio carbono do tecido em seu interior (National Geographic).
Mas as surpresas não param por aqui!
Estudos mais recentes indicam que as fêmeas atingem a maturidade sexual com 134 anos e que a capacidade do útero é de 200 a 324 filhotes por gravidez. O tempo de gestação ainda é desconhecido (NIELSEN, J. et al, 2020).
Esses tubarões comem uma variedade de peixes, invertebrados e outras presas surpreendentes. Já foram encontrados restos de ursos polares, renas, cavalos e outros grandes mamíferos terrestres em seus sistemas digestivos (OCEANA). Para sobreviver em temperaturas baixas eles possuem altos teores de substâncias químicas que atuam como anticongelante e impedem a formação de cristais de gelo em seu organismo, como o óxido de trimetilamina. Por isso, sua carne é venenosa. Ingeri-la pode causar diarreia, vômitos, desorientação e convulsões, com sintomas semelhantes a uma embriaguez grave (OCEANWIDE).
Por fim, mas não menos importante, a espécie é classificada como “Vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, 2019). Essa espécie não é mais ativamente caçada, mas ainda é capturada acidentalmente em pescas. Estudos ainda são necessários para compreender melhor suas características, comportamentos e ameaças.
Autora: Anna Karolina Vasconcelos Marin Zimerer
Referências
National Geographic. Tubarão-da-groenlândia. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/tubarao-da-groenlandia.
National Geographic. Por que o tubarão-da-Groenlândia é um dos animais mais velhos do mundo? Veja o que diz a ciência. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2024/09/por-que-o-tubarao-da-groenlandia-e-um-dos-animais-mais-velhos-do-mundo-veja-o-que-diz-a-ciencia, 2024.
NIELSEN, J. et al. Assessing the reproductive biology of the Greenland shark (Somniosus microcephalus). PLoS One, v. 15, n. 10, p. e0238986, 2020.
OCENA. Greenland Shark (Somniosus microcephalus). Disponível em: https://oceana.org/marine-life/greenland-shark/
OCEANWIDE. 9 Facts about the Greenland Shark. Disponível em: https://oceanwide-expeditions.com/blog/8-facts-about-the-greenland-shark
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Greenland Shark (Somniosus microcephalus). 2019. Disponível em: https://www.iucnredlist.org/species/60213/124452872
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