A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) é um mamífero da família Balaenopteridae, designação dada aos cetáceos detentores de um conjunto de pregas na pele que se iniciam na parte inferior da boca e se estendem até ao umbigo, excetuando-se a baleia-sei, que tem pregas mais curtas. Esses animais podem crescer até 18 m de comprimento e pesar até 40 toneladas. Nessa espécie, como na maioria das baleias, as fêmeas são maiores que os machos. Destacam-se pelo tamanho das suas nadadeiras, que chegam a cerca de 5 m de comprimento. Suas caudas também são amplas e crescem até 5,5 m de largura, além de possuírem formas e padrões de cor únicos para cada indivíduo, o que ajudou os pesquisadores a identificar, catalogar e monitorar a migração das baleias jubarte, o tamanho da população, a maturidade sexual e os padrões de comportamento.
Esses animais vagam por todo o mundo, mas o local exato onde podem ser encontrados depende da época do ano. No verão, muitas jubartes passam seu tempo em áreas de alimentação em altas latitudes, como o Golfo do Alasca ou Antártica. Durante o inverno, eles nadam para as águas quentes mais próximas do Equador, ao redor do Havaí, América do Sul e África. A exceção são as jubartes que vivem no mar da Arábia e ficam lá o ano todo, comendo e acasalando todas na mesma área, de acordo com a ACS (American Cetacean Society). Elas podem viajar cerca de 5.000 km entre seus locais de reprodução e alimentação regularmente. A migração mais longa já registrada foi de 18.840 km, uma viagem que ia da Samoa Americana à Península Antártica.
Elas também são conhecidas por suas canções marcantes, que são capazes de percorrer dezenas de quilômetros de distância pelo oceano. Até onde se sabe, as baleias emitem sons movimentando o ar internamente entre várias cavidades cranianas, os sacos aéreos, e através dos chamados lábios fônicos, ou pregas vocais. Na sua vocalização, há um som mais curto conhecido como unidade, e um conjunto desses sons é denominado de frase. Já uma série de frases é chamada de tema e, por fim, a combinação de diferentes temas formam o canto. Apesar de todos os indivíduos dessa espécie serem capazes de vocalizar, os cantos foram registrados apenas nos machos.
Não se sabe ao certo a finalidade dessas vocalizações, contudo, é mais provável que as jubartes cantem para se comunicar com outros seres da espécie e para atrair parceiras em potencial. Devido ao fato de que apenas os machos cantam, até os atuais registros, acredita-se que os cantos estejam relacionados ao acasalamento. No entanto, limitar os sons apenas à reprodução pode ser um equívoco, visto que há muitas expressões além do canto em si. As baleias geram certos ruídos em conjunção em circunstâncias sociais específicas, além de alguns grupos criarem sons que podem ser interpretados como hinos territoriais. Os filhotes são conhecidos por sussurrar para suas mães, estabelecendo, assim, uma comunicação singular para cada relação mãe-filhote.
Aparentemente, há vários tipos de som em torno dos quais as baleias constroem seus cantos, mas as variações individuais são pronunciadas, sendo que há apenas um padrão de canto específico de espécie muito grosseiro. Em cada população existe uma uniformidade no canto, um padrão fixo, e cada indivíduo adere ao seu próprio tipo de canção. Esse comportamento leva a crer que as baleias jubartes realizem uma transmissão cultural, de modo a passar o mesmo canto entre os indivíduos do grupo. Entretanto, apesar da continuidade, este som está constantemente em transformação e todos os machos vão incorporando alterações ao longo do tempo em suas próprias canções, seja adicionando nuances de cantos de outros indivíduos, seja adicionando percepções ambientais. Essa alteração é feita muito lentamente, porém ajuda no reconhecimento caso os animais se reencontrem.
A percepção das canções é relativa a mudanças na densidade da água, causadas por diferenças em salinidade ou temperatura, de forma que o som é refletido tanto na superfície da água quanto no fundo do mar, porém tendo alcances e entonações variáveis. No Journal of Acoustical Society of America, os cientistas Eduardo Mercado e Neil Frazer sugerem que as baleias podem ser capazes de usar ecos do fundo do oceano ou de cardumes de peixes para julgar a que distância seus sons estão viajando, e, então, para mudar o tom de acordo. A qualidade, ao invés do volume, do som refletido deve transmitir as informações de feedback necessárias. Os cientistas ainda ressaltam que as jubartes são boas ouvintes, pois têm sido observadas aparentemente imitando canções alheias, e que também apresentaram o comportamento de alterar suas canções quando os navios que passam tornam o ambiente mais barulhento.
Até 1988, as baleias jubarte foram listadas como ameaçadas de extinção. As populações se recuperaram, para entre 30.000 e 40.000 indivíduos, o que é cerca de 30 a 35% da população em 1940, de acordo com a ACS. A IUCN (International Union for Conservation of Nature) tem uma estimativa mais alta, de cerca de 60.000 animais, classificando as jubartes como menos preocupantes em sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Portanto, é possível que o monitoramento dos sons da baleia jubarte revele como outros ruídos do oceano afetam esses animais. O ruído antropogênico está aumentando nos oceanos e, embora muitos esforços sejam direcionados para a compreensão de sons diretos e letais, como o sonar militar, mudanças comportamentais mais sutis resultantes da comunicação degradada podem, a longo prazo, ser igualmente perigosas, colocando em risco a conservação desses animais.
REFERÊNCIAS
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