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Pesca Cooperativa entre Botos e Pescadores

Foto do escritor: Jacqueline MeyerJacqueline Meyer

Em três localidades do sul do Brasil, acontece um fenômeno conhecido como pesca cooperativa. Nessa atividade, ocorre uma interação entre pescadores artesanais de tarrafa e botos (Tursiops truncatus), na qual estes trabalham juntos para capturarem as tainhas (Mugil sp.). A pesca cooperativa acontece principalmente na Barra do Rio Tramandaí (entre os municípios de Imbé e Tramandaí, no RS), no estuário do município de Laguna/SC e no estuário do rio Mampituba (entre os estados de SC e RS).

Os golfinhos conduzem os cardumes de tainhas em direção aos pescadores, sinalizando com movimentos corporais a localização dos peixes e o momento certo para lançarem as tarrafas. Dessa forma, os pescadores conseguem pegar mais peixes, principalmente em dias em que a água está turva. Já os golfinhos, através da desorganização dos cardumes provocada pelas tarrafas lançadas, conseguem capturar mais facilmente os peixes desnorteados. Desse modo, botos e pescadores se beneficiam, obtendo recursos de forma mais vantajosa, otimizando o gasto energético. Essa interação ocorre com maior intensidade durante o outono, época da migração de tainhas na costa sul do Brasil.

Os pescadores atribuem parte da sua sobrevivência e o que adquirem para a subsistência de suas famílias, à relação que construíram com os botos durante os anos de pesca. Eles reconhecem cada boto pela forma de pescar e identificam as relações genealógicas entre os golfinhos. De acordo com os pescadores e biólogos, esse comportamento cooperativo é transmitido pelas mães aos filhotes, que imitam seus movimentos.

Sabe-se que os botos apresentam uma alta fidelidade a estuários específicos. Por exemplo, na barra do rio Tramandaí, verifica-se a presença de indivíduos errantes, mas a fidelidade à barra implica à proteção do território familiar, já que alguns animais foram identificados impedindo a entrada de Tursiops estranhos no estuário. Devido à fidelidade territorial, ações de conservação em escala local são fundamentais.

A espécie de boto (T. truncatus) está classificada como pouco preocupante na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), entretanto está classificada como vulnerável na lista de espécies ameaçadas do Rio Grande do Sul de 2014. Contudo, a pesca cooperativa corre o risco de se extinguir devido a diversos fatores, como a ocupação desordenada, a desvalorização do pescador artesanal, os impactos causados pelo turismo, o tráfego de embarcações, a pesca recreativa, a poluição e o desconhecimento geral sobre esta interação. Desse modo, ações como o “Projeto Botos da Barra do Rio Tramandaí” são fundamentais para fornecer subsídios a fim de garantir a continuidade da pesca cooperativa ao longo dos anos, através da realização de conscientização e educação ambiental.




REFERÊNCIAS


CATÃO, B.; BARBOSA, G. C. “Good dolphins”, fishes and fishermen: about the conjoint fishing in Laguna (Santa Catarina, Brazil). Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 69, p. 205-225, 2018.

GONÇALVES, Y. C. A visão dos pescadores artesanais sobre a pesca cooperativa e a importância dos botos, Tursiops truncatus (MONTAGU, 1821), em dois estuários do sul do Brasil. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas: marinha e costeira). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Imbé, 2018.

ILHA, E. B. Pescadores e botos: histórias de uma conexão em rede. (Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura em Ciências Biológicas). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.

SILVEIRA, F. L. A. Sobre Homens, Botos e Peixes: dimensões poético-imaginárias de uma Ecoantropologia Urbana de coletivos humanimais no sul do Brasil. Anthropológicas, n. 31, v. 1, p. 7-36, 2020.


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