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Toxoplasmose em cetáceos.


Nas últimas décadas, tem havido um aumento significativo nos estudos sobre doenças emergentes e patógenos em ambientes marinhos. Os cetáceos são reconhecidos como sentinelas ambientais devido a sua longevidade, papel na cadeia trófica e capacidade de bioacumular contaminantes. Assim desempenham um importante papel como indicadores das mudanças que ocorrem no ecossistema aquático ao longo do tempo, desde alterações de curto prazo, até transformações de natureza mais duradoura. Esse aumento de doenças está diretamente ligado à degradação e fragmentação de habitat, o que intensifica a interação entre espécies domésticas, selvagens e humanas. Os dados utilizados geralmente são obtidos a partir de animais encalhados mortos ou através de avaliações do banco de imagens para identificação por foto. Entre as principais doenças emergentes relatadas em cetáceos, a toxoplasmose tem recebido atenção especial por parte dos pesquisadores, gerando preocupações crescentes.

A toxoplasmose é provocada pelo protozoário coccídeo do filo Apicomplexa, conhecido como Toxoplasma gondii. Este parasita possui alta morbidade e é uma das doenças parasitárias mais prevalentes entre os animais endotérmicos. O T. gondii é um parasita intracelular obrigatório que se manifesta em diversas formas infecciosas: taquizoítos, bradizoítos e oocistos. Sua distribuição geográfica é global e sua taxa de incidência é alta. A presença deste protozoário em cetáceos pode ser vinculada à liberação de seus oocistos de T. gondii, que são eliminados pelas fezes de felídeos, ou ao contato com solo contaminado pelo parasita. Essa contaminação pode ocorrer devido à drenagem fluvial, despejos ou ao escoamento de navios, o que eventualmente compromete a da água do mar.

A avaliação da prevalência da toxoplasmose em animais marinhos, especialmente cetáceos, é de extrema importância pelos seguintes motivos: a via de infecção ainda é desconhecida, uma vez que a maioria desses mamíferos ingerem pouca ou nenhuma água; a infecção por esse patógeno pode ser fatal para os cetáceos; e sua detecção pode servir como uma ferramenta para avaliar a contaminação do ecossistema marinho. Alguns estudos mostram a ocorrência de toxoplasmose associada a coinfecção com outros agentes imunossupressores, como o morbillivirus. Foi registrado um caso de toxoplasmose em boto-cinza (Sotalia guianensis) na costa brasileira (GONZALES-VIEIRA et al., 2013). Durante a necropsia, o animal apresentou extensas áreas de necrose em órgãos como fígado, linfonodos, pulmão, adrenais e pâncreas, além da presença de fungos oportunistas nos brônquios pulmonares. Registros similares incluem casos de morte em outras duas espécies de golfinhos: o golfinho listrado (Stenella coeruleoalba) (DI GUARDO et al., 2010) e o golfinho-de-hector (Cephalorhynchus hectori), na Nova Zelândia (ROE et al., 2013). Esses achados sugerem que a toxoplasmose pode ser um fator significativo na mortalidade e encalhe desses animais.

Apesar dos avanços na compreensão desse patógeno, ainda há um conhecimento limitado sobre diversos aspectos da infecção por esse parasita e da doença. Portanto, é crucial persistir nas investigações e estudos para aprimorar a compreensão e avaliação do ecossistema marinho. A coleta de informações sobre as causas de mortalidade relacionadas a doenças infecciosas de origem parasitária é considerada uma prioridade no Plano de Ação Nacional para a Conservação de Mamíferos Marinhos, que visa o aumento de conhecimento sobre as espécies deficientes de dados e o desenvolvimento de ações de conservação efetivas para salvaguardar as espécies com ameaças iminentes.


Autor: Ana Carolina Prado Sordi – Diretora de Associação do GEAS Brasil

Revisão: Iago Junqueira - Parceiro do GEAS Brasil pelo The Wild Place BR

Painel Selvagem de Junho/2024


Referências Bibliográficas:

COSTA-SILVA, S. Pesquisa de Toxoplasma gondii em mamíferos marinhos do Brasil. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10133/tde-20062016-123705/publico/SAMIRA_COSTA_SILVA_simplificada.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2024.

DE CARVALHO PINTO, C. J.; GRISARD, E. C.; ISHIDA., M. M. I. Parasitologia. [s.l.] Universidade Federal de Santa Catarina, 2011. 

DI GUARDO, G.; DI CESARE, A.; OTRANTO, D.; CASALONE, C.; IULINI, B.; MIGNONE, W.; TITTARELLI, C.; MELONI, S.; CASTAGNA, G.; FORSTER, F.;KENNEDY, S.; TRAVERSA, D. Genotyping of Toxoplasma gondii isolates in meningo-encephalitis affected striped dolphins (Stenella coeruleoalba) from Italy. Veterinary Parasitology, v. 183, n. 1-2, p. 31–36, 2011.

DOMICIANO, I. G. et al. Enfermidades e impactos antrópicos em cetáceos no Brasil. Clínica Veterinária, v. 99, n. 2012, p. 100–110, [s.d.].

GONZALES-VIERA, O.; MARIGO, J.; RUOPPOLO, V.; ROSAS, F. C. W.; KANAMURA, C. T.; TAKAKURA, C.; FERNÁNDEZ, A.; CATÃO-DIAS, J. L.Toxoplasmosis in a Guiana dolphin (Sotalia guianensis) from Paraná, Brazil.Veterinary Parasitology, v. 191, p. 358–362, 2013.

ROE, W. D.; HOWE, L.; BAKER, E. J.; BURROWS, L.; HUNTER, S. A. Anatypical genotype of Toxoplasma gondii as a cause of mortality in Hector’s dolphins (Cephalorhynchus hectori). Veterinary Parasitology, v. 192, n. 1-3, p. 67–74, 18 fev. 2013.


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