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Anomalias cromáticas em aves

Foto do escritor: Bruna Maria SarriBruna Maria Sarri

Existem, de maneira simplificada, 2 tipos de pigmentos eutróficos verdadeiros (cores verdadeiras) que podem ser observados nas penas das aves: a cor melânica e a cor lipocrômica. A cor melânica é derivada da melanina, que pode estar presente como eumelanina, que origina tonalidades que variam da cor negra ao cinza azulado, ou feomelanina, que dá origem a tons que vão de castanho escuro ao bege claro, se distribuindo no eixo e periferia das penas. Já a cor lipocromica se apresenta em gradações de branco, amarelo e vermelho.

A coloração que observamos nas penas das aves se deve à capacidade desses pigmentos eutróficos em interagirem com a luz e as propriedades estruturais das penas. A eumelanina citada, que em alta quantidade faz com que as penas fiquem pretas, é uma coloração muito comum em aves, é um pigmento que absorve muita luz, fazendo com que as penas não dependam de sua coloração para adquirirem brilho. Quando as penas tem cores mais vivas e brilhantes, estão presentes pigmentos que refletem parte da luz incidente, como os carotenoides, que dão origem a tonalidades de amarelo, vermelho, laranja, podendo ocorrer também o azul ou verde, através do “efeito tyndall”, que se dá a partir do reflexo da luz branca em penas vermelhas. Além dos citados, as penas ainda possuem o pigmento porfirina, que dá origem a tonalidades de marrom, vermelho, rosa e verde, ou microcristais, que quando presentes provocam um efeito reflexivo dos raios luminosos, produzindo tons “furta-cor” comuns em beija-flores.

A expressão fenotípica das alterações na quantidade de melaninas, porfirinas e carotenoides presentes nas penas de cada ave em particular, se deve a diversos fatores, entre eles genéticos, ambientais e principalmente nutricionais. Como, durante a fase de muda há maior gasto energético e altas demandas de vitaminas, cobre, zinco, ácidos graxos e proteínas, é essencial oferecer uma dieta balanceada, já que uma baixa oferta de aminoácidos durante essa fase, que são de extrema importância na formação dos folículos e bainhas das novas penas, pode culminar no surgimento de penas com coloração e estrutura alteradas.

Uma das alterações mais comuns de padrão de coloração e morfologia das penas é a presença das chamadas “linhas de estresse”. As linhas de estresse consistem em falhas no padrão das penas, normalmente no formato de linhas de coloração escura, localizadas perpendicularmente ao eixo da pena, indicando desordens de desenvolvimento da mesma, com uma causa base que pode ser a presença de estímulos estressantes, desnutrição, deficiência de aminoácidos (arginina e metionina) e microminerais na dieta ou presença de doenças.

De forma crescente, as mutações em genes codificadores de pigmentos vêm sendo discutidas como umas das principais causas base para as anormalidades cromáticas em aves, principalmente devido à endogamia e hibridação entre os indivíduos e espécies. Entre as mutações mais comuns estão o leucismo, albinismo, melanismo, cianismo e esquizocromismo (inclui flavismo e luteinismo).

Em aves, o leucismo é caracterizado pela perda completa dos pigmentos de melanina das penas, fazendo com que fiquem brancas, sem perda de melanina nas estruturas cutâneas, como derme, olhos e mucosas, que mantém a coloração normal para a espécie. Esse tipo de alteração é causada pelo bloqueio da síntese de melanina, devido a alelos mutantes ou alterações na expressão gênica, impedindo a pigmentação correta das penas, e gerando perda de melanina e carotenóides. O animal pode apresentar apenas penas brancas em todo o corpo (leucístico) ou ser manchado de forma irregular (padrão arlequim).

É importante diferenciar o leucismo do albinismo, que é uma condição caracterizada pela perda total dos pigmentos, tanto os dois tipos de melanina quanto pigmentos carotenoides, podendo ocorrer em todo o corpo ou em partes dele. Enquanto no leucismo ocorre apenas a perda de coloração das penas, no indivíduo albino, seu bico e patas também são mais claros e os olhos apresentam uma coloração avermelhada, além deste possuir baixa resistência ao sol, tendo visão menos eficiente e ficando mais suscetível a queimaduras solares.

Quanto às outras alterações, o melanismo, muito comum em aves de rapina, consiste no aumento da produção de melanina, conferindo coloração mais escura ao indivíduo, sem surgimento de doenças concomitantes; o cianismo é caracterizado pela perda de pigmentos carotenóides sem a perda de melanina, fazendo com que o animal apresente penas azuis (muito comum em psitacídeos); e o esquizocromismo, que é dividido entre flavismo, que é a ausência parcial da eumelanina e/ou feomelanina, com presença de pigmentos carotenóides (as cores das penas ficam com aspecto desbotado), e luteinismo, que é a ausência completa dos pigmentos de melanina, com presença de pigmentos carotenóides (a ave geralmente é amarela, com olhos vermelhos).

Diante das diversas anomalias cromáticas citadas, sejam elas de cunho nutricional, ambiental ou genético, é importante ressaltar que o avistamento de aves com esse tipo de alteração vem crescendo, principalmente em centros urbanos e entre animais derivados do tráfico ou mantidos sob cuidados humanos de maneira inadequada (principalmente o leucismo e presença de linhas de estresse), sendo necessário investigar a fundo as causas para o aumento dessa incidência.




REFERÊNCIAS


DE AZEVEDO LOPES, Ana Cecília Pires; DE FREITAS, Marco Antônio. Anomalias cromáticas em aves provenientes do tráfico de animais silvestres em Alagoas, Brasil.


MEYER, Douglas; CROZARIOL, Marco Aurélio. Alterações cromáticas em aves no estado de Santa Catarina, sul do Brasil.


VIEIRA, Adara Diamante Spinola Monteiro. Principais causas de alteração da coloração de penas em papagaio verdadeiro (Amazona aestiva). 2018.


WikiAves, disponível em: https://www.wikiaves.com.br/index.php. Acesso em 06/01/2021.


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