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Tricologia Forense de Mamíferos Silvestres

Foto do escritor: Mylena Oliveira MirandaMylena Oliveira Miranda

A tricologia forense é um método de identificação que vem sendo

utilizado cada vez mais e consiste na análise morfológica do pelo através da

microscopia, permitindo a identificação e caracterização de uma determinada

espécie. Esta técnica é simples, fácil e barata, podendo contribuir no avanço da

medicina veterinária forense, a fim de preservar o patrimônio ambiental,

facilitando investigação de crimes contra a fauna.

Os pelos recobrem a pele dos mamíferos e são característicos da classe

Mammalia, são divididos em dois principais grupos: subpelos e pelos-guarda.

Os subpelos são curtos, ondulados e finos, se apresentam em grande número,

têm função de termorregulação e proteção. Os pelos-guarda, por sua vez, são

mais longos e grossos, se apresentam em menor número, sendo responsáveis

pela mecanorrecepção e coloração da pelagem. Os pelos são queratinizados,

compostos por duas porções: raiz, que é uma estrutura cilíndrica que se

estende pela superfície da epiderme, e a haste, que apresenta três camadas

celulares: externa (cutícula), intermediária (córtex) e interna (medula). A análise

dos padrões morfológicos dessas camadas, principalmente cutícula e medula,

permite identificação taxonômica das espécies.

O tráfico de animais selvagens ocupa o quarto lugar dentre os maiores

comércios ilegais, perdendo apenas para os tráficos de armas, drogas e

pessoas. Como consequência do contrabando animal, há diminuição da

biodiversidade, o que leva à extinção de muitas espécies, causando

desequilíbrio dos ecossistemas e ameaçando a vida no planeta. Essa atividade

ilícita tem grande importância no Brasil, uma vez que o país é rico em fauna e

flora, seus diversos biomas o classificam como um dos maiores berços da

biodiversidade no planeta. No território brasileiro há mais de 700 espécies de

mamíferos reconhecidos, sendo que 15% delas são consideradas ameaçadas

de extinção.

A legislação ambiental conta com a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de

1998, a qual caracteriza crime ambiental como todo e qualquer dano ou

prejuízo causado aos elementos que compõem o ambiente, é usada como

ferramenta para responsabilização, aplicação de sanções e penas contra

crimes ao meio ambiente. A resolução desses crimes é, portanto, essencial e

cabe ao perito uma conduta correta e a utilização de protocolos e exames

precisos e acessíveis, uma vez que a identificação correta da espécie lesada

influencia diretamente na gravidade da sanção sobre o infrator.

A investigação de crimes ambientais frequentemente envolve poucas

provas, as amostras podem ser apenas fragmentos, carcaças, pele e outros

subprodutos, o que inviabiliza a utilização de algumas técnicas de identificação

como morfologia e exige técnicas mais específicas como genética forense e

tricologia.

O uso de pelo como amostra biológica vem sendo preferido, por ser uma

técnica não invasiva, fácil de coletar e com análise rápida e precisa.A presença

de pelos na cena de crimes é comum, mesmo na ausência do animal ou

fragmentos, sendo possível encontrar pelos na arma do crime, no ambiente ou

em veículos. Além disso, análise dos pelos pode contribuir em pesquisas sobre

comportamento e alimentação de carnívoros, pela análise de sua presença em

fezes ou pegadas.

O exame tricológico consiste na produção de lâminas com a impressão

de pelos-guarda e posterior análise em microscópio óptico das regiões de

cutícula e medula (nesse caso é necessário um processo de descoloração).

Cada espécie apresenta um padrão cuticular diferente e a análise meticulosa

garante a identificação taxonômica por tal método.

Contudo, por mais que tenha ampla aplicação, há pouca literatura

publicada se tratando de tricologia, sendo fundamental que mais trabalhos

abordam o tema, a fim de criar um banco de dados para identificação de

mamíferos brasileiros e a técnica seja padronizada e popularizada.




REFERÊNCIAS


AHMED, Y. A.; ALI, S.; GHALLAB, A. Hair histology as a tool for forensic

identification of some domestic animal species. EXCLI journal, v. 17, p. 663-

670, 2018. Disponível em:

https://www.excli.de/vol17/Ghallab_06072018_proof.pdf. Acesso em: 02 maio

2020.


DAS, S. et al. Light and scanning electron microscopy aided with elementary

analysis in characterization and identification of hair of Assam hill goat. Journal

of Entomology and Zoology Studies, v. 6, n. 3, p. 1141-1148, 2018.

Disponível em:

http://www.entomoljournal.com/archives/?year=2018&vol=6&issue=3&ArticleId=

369. Acesso: 26 abr. 2020.


Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Livro Vermelho da

Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio, 2018. Disponível

em: https://www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/10187. Acesso

em: 10 abr. 2020.


MIRANDA, G. H. B.; RODRIGUES, F. H. G.; PAGLIA, A. P. Guia de

Identificação de Pelos de Mamíferos Brasileiros. Brasília: Ciências

Forenses, 2014.

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