A tricologia forense é um método de identificação que vem sendo
utilizado cada vez mais e consiste na análise morfológica do pelo através da
microscopia, permitindo a identificação e caracterização de uma determinada
espécie. Esta técnica é simples, fácil e barata, podendo contribuir no avanço da
medicina veterinária forense, a fim de preservar o patrimônio ambiental,
facilitando investigação de crimes contra a fauna.
Os pelos recobrem a pele dos mamíferos e são característicos da classe
Mammalia, são divididos em dois principais grupos: subpelos e pelos-guarda.
Os subpelos são curtos, ondulados e finos, se apresentam em grande número,
têm função de termorregulação e proteção. Os pelos-guarda, por sua vez, são
mais longos e grossos, se apresentam em menor número, sendo responsáveis
pela mecanorrecepção e coloração da pelagem. Os pelos são queratinizados,
compostos por duas porções: raiz, que é uma estrutura cilíndrica que se
estende pela superfície da epiderme, e a haste, que apresenta três camadas
celulares: externa (cutícula), intermediária (córtex) e interna (medula). A análise
dos padrões morfológicos dessas camadas, principalmente cutícula e medula,
permite identificação taxonômica das espécies.
O tráfico de animais selvagens ocupa o quarto lugar dentre os maiores
comércios ilegais, perdendo apenas para os tráficos de armas, drogas e
pessoas. Como consequência do contrabando animal, há diminuição da
biodiversidade, o que leva à extinção de muitas espécies, causando
desequilíbrio dos ecossistemas e ameaçando a vida no planeta. Essa atividade
ilícita tem grande importância no Brasil, uma vez que o país é rico em fauna e
flora, seus diversos biomas o classificam como um dos maiores berços da
biodiversidade no planeta. No território brasileiro há mais de 700 espécies de
mamíferos reconhecidos, sendo que 15% delas são consideradas ameaçadas
de extinção.
A legislação ambiental conta com a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de
1998, a qual caracteriza crime ambiental como todo e qualquer dano ou
prejuízo causado aos elementos que compõem o ambiente, é usada como
ferramenta para responsabilização, aplicação de sanções e penas contra
crimes ao meio ambiente. A resolução desses crimes é, portanto, essencial e
cabe ao perito uma conduta correta e a utilização de protocolos e exames
precisos e acessíveis, uma vez que a identificação correta da espécie lesada
influencia diretamente na gravidade da sanção sobre o infrator.
A investigação de crimes ambientais frequentemente envolve poucas
provas, as amostras podem ser apenas fragmentos, carcaças, pele e outros
subprodutos, o que inviabiliza a utilização de algumas técnicas de identificação
como morfologia e exige técnicas mais específicas como genética forense e
tricologia.
O uso de pelo como amostra biológica vem sendo preferido, por ser uma
técnica não invasiva, fácil de coletar e com análise rápida e precisa.A presença
de pelos na cena de crimes é comum, mesmo na ausência do animal ou
fragmentos, sendo possível encontrar pelos na arma do crime, no ambiente ou
em veículos. Além disso, análise dos pelos pode contribuir em pesquisas sobre
comportamento e alimentação de carnívoros, pela análise de sua presença em
fezes ou pegadas.
O exame tricológico consiste na produção de lâminas com a impressão
de pelos-guarda e posterior análise em microscópio óptico das regiões de
cutícula e medula (nesse caso é necessário um processo de descoloração).
Cada espécie apresenta um padrão cuticular diferente e a análise meticulosa
garante a identificação taxonômica por tal método.
Contudo, por mais que tenha ampla aplicação, há pouca literatura
publicada se tratando de tricologia, sendo fundamental que mais trabalhos
abordam o tema, a fim de criar um banco de dados para identificação de
mamíferos brasileiros e a técnica seja padronizada e popularizada.
REFERÊNCIAS
AHMED, Y. A.; ALI, S.; GHALLAB, A. Hair histology as a tool for forensic
identification of some domestic animal species. EXCLI journal, v. 17, p. 663-
670, 2018. Disponível em:
https://www.excli.de/vol17/Ghallab_06072018_proof.pdf. Acesso em: 02 maio
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analysis in characterization and identification of hair of Assam hill goat. Journal
of Entomology and Zoology Studies, v. 6, n. 3, p. 1141-1148, 2018.
Disponível em:
http://www.entomoljournal.com/archives/?year=2018&vol=6&issue=3&ArticleId=
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Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Livro Vermelho da
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio, 2018. Disponível
em: https://www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/10187. Acesso
em: 10 abr. 2020.
MIRANDA, G. H. B.; RODRIGUES, F. H. G.; PAGLIA, A. P. Guia de
Identificação de Pelos de Mamíferos Brasileiros. Brasília: Ciências
Forenses, 2014.
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